segunda-feira, 26 de setembro de 2011

A "gangorra"continua



Segue a gangorra do futebol paranaense no Brasileirão 2011. O Paraná, que vinha jogando mal e deixando escapar pontos preciosos dentro da Vila, voltou a vencer e convencer, colocando o vice líder Náutico no bolso, na última sexta-feira. No sábado, o Furacão empatou com o Fluminense, na Arena, em um jogo prá lá de conturbado, cheio de lances polêmicos, com pênalti para os visitantes, já nos acréscimos, e confusão com a galera, no final. Domingo, o Coxa perdeu por 3x2 para o Ceará, lá em Fortaleza. Mais uma vez não conseguiu vencer fora de casa, o que não permite a sua aproximação à zona da Libertadores. E ainda teve o Cianorte, pela Série D, que perdeu em casa, por 1x0, para o Oeste, de Itápolis/SP.

ÔÔÔ, o Tricolor voltou...

O Paraná Clube voltou a vencer em casa, quando ninguém esperava. E venceu jogando bem. E venceu o vice líder. Estreando reforços, na 25ª rodada (e ainda tem mais gente para estrear), o Tricolor surpreendeu pelo bom posicionamento em campo. Mesmo com o volante Itaqui debutando e com o lateral Henrique pela primeira vez atuando como titular, no meio campo, a equipe foi equilibrada e venceu pela força do conjunto.
O meia Dinélson foi adiantado para o ataque, jogando solto. E o seu futebol apareceu. Fez um bom primeiro tempo e no segundo, logo no começo, marcou o segundo gol (o primeiro foi de Itaqui, numa bomba de fora da área), que definiu a parada. Com esse futebol, o Tricolor pode sonhar ainda com o G4. Em Juazeiro, nesta terça-feira (27), veremos se a fase boa voltou para ficar.

Confusão de novo na Arena

O Atlético empatou em 1x1 com o Fluminense, sábado último, na Arena da Baixada. Poderia ter vencido. Hoje culpam o árbitro, mas sem razão. Ele marcou o (discutível) pênalti em Vágner Diniz. Paulo Baier afinou (segundo o técnico Antonio Lopes), Cléber Santana foi lá e desperdiçou o gol.
O zagueiro Rafael Santos colocou a mão na bola desnecessariamente, em cima da linha da grande área (se dentro ou fora, nem na televisão deu para saber). Foi expulso com razão. E o árbitro marcou fora da área.
O Furacão ainda desperdiçou algumas boas chances durante o jogo. Nos acréscimos, o árbitro marcou penalti em Lanzini. Que me perdoem os atleticanos, mas cada vez que olho as imagens, vejo a mão de Manoel empurrando o atacante pelas costas, e ainda um pezinho por baixo. Para mim, penalti. E se não foi, é duvidoso o suficiente para não justificar a revolta de todos.
Não vai ser  justificando a incompetência em definir os jogos pelos erros das arbitragens que o rubro negro vai sair dessa. Que assumam os erros e melhorem o desempenho e, principalmente, as finalizações.

Coxa volta com mais uma derrota

O Coritiba precisa vencer alguns jogos fora de casa para poder sonhar com a Libertadores. Pois vence em casa, se aproxima, mas ao perder constantemente fora, não consegue tirar a diferença. O Ceará lá em Fortaleza sempre foi pedreira. E dessa vez não foi diferente.
O centroavante Bill ainda consegiu empatar duas vezes, mas não foi suficiente. O Coxa começou a rodada a quatro pontos do G5. Terminou a cinco. Prejuízo pequeno, mas para mudar o rumo dessa história, vai ter que descobrir a razão de não vencer fora. Não pergunte para mim, pois não faço a mínima idéia. Tarefa para o Marcelo Oliveira e sua competente comissão técnica.

Cianorte mandou no jogo, mas perdeu

Marco Franzato, Carlos Marcato e Luis Carlos Bersani, diretores do Cianorte
Acompanhei das arquibancadas do Estádio Albino Turbay a derrota do Cianorte para o Oeste de Itápolis/SP, por 1x0, neste domingo (25). Do começo ao fim só deu o Leão do Vale. Em um único ataque, o Oeste marcou o seu gol, que acabou garantindo aos paulistas a vantagem para o segundo jogo, em São Paulo.
O Cianorte criou algumas chances, poderia e deveria ter empatado e até virado o placar, mas não teve forças e competência para tal. Mas tem chances de reverter a coisa lá em Itápolis, basta reencontrar a inspiração para criar mais e melhorar a pontaria, para fazer os gols criados. Simples, não?
Fui até a (cada vez mais bela) cidade de Cianorte a convite do diretor de futebol do clube, Luis Carlos Bersani, para o aniversário de 15 anos de sua filha, (a mais bela ainda) Lorena. Uma das mais lindas festas que presenciei em minha vida. Obrigado, Bersani, pelo convite, pelo carinho e pela amizade.
Bersani, ao lado do presidente Marco Franzato, são os alicerces da equipe do Cianorte, que ano a ano evoluiu em estrutura e é exemplo para as outras equipes de futebol do interior do Paraná.

domingo, 18 de setembro de 2011

Tudo igual



Mais um final de semana sem vitória das equipes paranaenses no Brasileirão 2011. Ou será sem derrota? Com o advento dos três pontos por partida (já faz tanto tempo que parece que sempre foi assim, mas para os mais jovens, anteriormente a vitória valia somente dois pontos), o empate perdeu status e passou a ser considerado sempre um mau resultado, dentro ou fora de casa. Mas existem empates e empates.

Tricolor: 1x1 meio que agridoce

Guilherme Macugli estreou no comando do Tricolor
No sábado, o Paraná Clube novamente não venceu jogando na Vila. O empate com o Goiás foi um mau resultado, em termos de aproximação ao G4, mas pelas circunstâncias da partida, a qual perdia até os 39 minutos da segunda etapa, pode até se considerar um ponto ganho. E que lhe vale três posições na tabela de classificação: com a derrota seria o 14º colocado, o empate lhe mantém em 11º.

Do jogo, o que ficou de bom foi a atuação do jovem lateral esquerdo Henrique, que entrou improvisado na meia e mudou a história da partida. E o gol de cabeça de Giancarlo, que pode lhe ajudar a recuperar a confiança perdida. Ele é o artilheiro da equipe e um dos principais assistentes também, mas mesmo assim (de forma absurda, em minha opinião) é ridicularizado pelos próprios torcedores paranistas. 

Ah... e o Macuglia estreou, e fez três alterações que ajudaram bastante o Paraná a chegar ao empate. Um bomtrabalho, para quem conhecia pouco as características dos atletas. Que seja um bom sinal para o Tricolor e que ele também possa mostrar aos que o criticaram antes mesmo de iniciar o trabalho, que tem o seu valor e merece, ao menos, respeito.

Atlético: 0x0 amargo contra o Figueira

Paulo Baier retornou no Furacão
O Furacão perdeu a chance de confirmar a reação, depois de vencer o Mengo no Rio. Uma vitória daria aquele embalo na busca de sair da zona de rebaixamento. Está agora a quatro pontos da primeira equipe que hoje se salvaria (o Bahia), seu próximo adversário, na quarta lá em Salvador. 

O Figueirense é uma “pedra” no sapato do rubro negro e tem demonstrado ser nesse Brasileiro, um time muito compacto e equilibrado, que vive mais da base da força do conjunto do que das individualidades. Foi um empate sem graça. De positivo, o retorno de Paulo Baier, que entrou no intervalo e demonstrou que pode ajudar o Furacão nessa caminhada para escapar da degola.

Na próxima quarta já tem um “pega” daqueles, lá na Boa Terra. Mas tem que se ter a sabedoria para encarar a situação: a vitória é importante, mas a derrota é mortal. Prudência e caldo de galinha não fazem mal para ninguém.

Coritiba: 1x1, sem pijama

O goleiro Vanderlei defendeu o penalti no Beira-Rio
O Coxa foi ao Beira-Rio enfrentar o Inter e voltou com um pontinho na bagagem. Bom resultado. Principalmente se levando em conta que tomou um gol logo de cara e teve que remar muito para buscar o resultado. Na classificação muda pouco ou quase nada, mas mantém o time em 9º lugar, a quatro pontos da zona da Libertadores. 

No primeiro tempo do jogo deste domingo, o Coxa teve 60% de posse de bola, mesmo na casa do adversário. Mas terminou perdendo por 1x0. Na segunda etapa, empatou logo no comecinho, com o zagueiro Émerson e depois, mais no final da partida, andou levando até um certo sufoquinho: duas bolas na trave e um pênalti defendido pelo goleiro Vanderlei. Mas segurou o empate, que acabou sendo até comemorado por alguns jogadores.

De bom: a atuação do jovem zagueiro Lucas Claro, que demonstrou personalidade e muita qualidade, principalmente se levando em conta que marcou Leandro Damião, o principal atacante do futebol brasileiro no momento. Não vejo como o Marcelo Oliveira possa pensar em tirá-lo da equipe titular. Pelo que está jogando merece ficar.

De ruim: mais uma vez, as substituições surtiram efeito negativo, pois os que entram acrescentam pouco à equipe. Isso vem se tornando regra e é preocupante, pois uma equipe depende de mais do que 11 jogadores. O banco de reservas tem que ser mais eficiente para que se possa sonhar em melhores posições.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Papo Cabeça - Marinho, pequeno grande craque



O Papo Cabeça de hoje é mais do que especial. É uma homenagem a um ser humano exemplar e um dos maiores expoentes do futebol paranaense de todos os tempos. Um pequeno grande homem, que com a simplicidade dos gênios, a liderança dos guerreiros e o encantamento dos imortais, transformou o ato de jogar bola em uma coisa fácil e corriqueira... para ele. Ave, Mario da Rocha! Salve, craque Marinho. 

Neste Papo, a trajetória de vida e de bola do maior e mais importante jogador de futebol da história do Paraná Clube. Alguns podem perguntar: “do Paraná Clube?”... Respondo que sim, evidente que sim. Colorado e Pinheiros foram os geradores do atual Paraná Clube, portanto, os atletas que jogaram nesses clubes fazem parte dessa história. E Marinho vestiu com maestria as camisas de ambos. E ninguém o fez melhor que ele. E nem os que posteriormente vestiram a camisa tricolor, azul, vermelha e branca, do Paraná Clube o fizeram.

Marinho chegou ao Colorado em 1974, quando o clube, que nasceu da fusão entre Ferroviário, Britânia e Palestra Itália, em 1971, ainda não havia conquistado nada. Já em 1974, um vice-campeonato. Que se repetiu em 75 e 76. Em 1980, o único título de campeão do Colorado, dividido com o Cascavel. Em 1982 mais um vice-campeonato, na final contra o Atlético/PR.

Depois de algumas andanças fora do estado do Paraná, voltou e foi renegado pelo Colorado, que preferiu os grandes astros do “Sele-Boca”, em 1984. Marinho então partiu para o lado azul do Paraná Clube: transferiu-se para o Pinheiros. E conduziu o “Leão da Vila Guaíra” ao título deste ano, justamente sobre o Sele-Boca. Ficou no Pinheiros até 1989. Foram mais três vices, em 85, 86 e 88, e o título de 1987.

Ou seja, em tudo que Colorado e Pinheiros conquistaram, existe a marca de competência e a liderança deste “baixinho”, que com os seus 1,68m de puro talento, se transformava em um leão quando entrava nos gramados.

Ganhou muitas vezes os prêmios individuais mais importantes na época (Troféu Corujinha de Ouro, do Jornal Tribuna do Paraná e Troféu Chuteira de Ouro, do Jornal Diário do Paraná). Oito vezes a Corujinha e seta a Chuteira. Por seis vezes foi escolhido o craque do Ano do futebol paranaense.

Neste Papo Cabeça, Marinho nos conta as “artes” do menino craque, pelos campinhos da sua Vila Sofia; das passagens pelo juvenil do Britânia, pela Seleção Paranaense de Juvenis, em 1970; da família; dos dias de Bamerindus e da chegada ao Colorado; e... bem, é melhor deixar que ele mesmo nos conte...


Serginho Prestes (SP): Onde e quando veio ao mundo o menino Mario da Rocha?
Marinho( MR): Nasci em 10/06/1951, na Vila Isabel, em um bairro chamado Tamoio.

SP: Viveu lá até quando?
MR: Até os sete anos. Depois nossa família veio para a Vila Sofia.

SP: Fale um pouco da sua família. Seus pais. Quantos irmãos?
MR: Meus pais se chamavam Aristides e Joaquina da Rocha. Éramos em 12 irmãos: sete homens e cinco meninas.  Meu pai trabalhava numa marcenaria, aqui no bairro, perto do quartel do Boqueirão. Era uma empresa grande.

SP: E o moleque Marinho? A bola esteve presente sempre nas brincadeiras?
MR: Na época de gurizinho jogava com bola de meia. Pegava uma meia velha, enchia de papel, pano ou o que desse. E estava pronto para jogar.

SP: E onde eram os palcos? na rua, na escola...?
MR: Na época, tinha um timinho em cada rua, em cada duas ou três quadras até. Existiam muitos campinhos, que a gente mesmo fazia.

SP: E a escola? Onde você estudou e até que série?
MR: Estudei aqui no Grupo Escolar Conselheiro Carrão, na Vila Sofia mesmo. Fiz até a 7ª Série.

O início da carreira
SP: Qual foi o primeiro time mais organizado, em que você atuou?
MR: Meu primeiro time mesmo foi também aqui na Vila. O Vila Sofia era um time muito bom. Muitos meninos de qualidade. Eu tinha uns 14 ou 15 anos.

SP: Lembra de algum menino que se destacava?
MR: O Carlinhos, meio campo. E o Ademir, lateral direito.

SP: Quando menino quem eram os seus ídolos? E o seu time de coração?
MR: Eu sempre fui santista. Meu falecido pai também era santista fanático. Tinha um rádio, daqueles antigos, grandões. Ficávamos ligados no rádio ouvindo os jogos do Santos. E eu só saia de casa para jogar bola depois que acabava o jogo do Santos. Meu grande ídolo não poderia ser outro: Pelé.

SP: Não ia aos estádios? Já se transmitiam jogos pela TV naquela época?
MR: Nesta época (década de 60) era só rádio. Como diz o pessoal do interior: “assistia pelo rádio”...

SP: Mas e aqui de Curitiba, do estado do Paraná? Quem eram os “feras”, que você admirava?
MR: Existiam muitos bons jogadores, mas o meu ídolo era o Krügger (hoje, gerente das categorias de base do Coritiba). Jogava no Britânia, na época.  Mais tarde eu fui jogar nos juvenis do Britânia, mais ou menos quando ele foi para o Coritiba.  Era um “cracaço” de bola. Aí teve o problema da joelhada na barriga que fez com que ele parasse de jogar.  No Ferroviário, gostava do Paulo Vecchio. No Atlético, sempre foi o Sicupira. Inclusive quando eu comecei no Colorado era o seu Barcímio, pai do Sicupira, quem fazia os contratos dos jogadores. Pessoa muito boa.

Um dos times amadores na década de 60
SP: Quando adolescente só jogava bola e estudava? Ou trabalhava também?
MR: Eu trabalhava na Eletro Dínamo. E jogava no Vila Sofia. Depois é que fui pro Britânia.

SP: E como foi essa ida para o Britânia?
MR: Em 1967, eu jogava no antigo Primavera, que ficava aqui ao lado da Vila Sofia. Disputávamos a Taça Tapajós, que existia na época. Em um jogo no campo do Bola de Ouro, no Uberaba, o Sisíco (atual auxiliar técnico das categorias de base do Coritiba), que cuidava dos juvenis do Britânia,  foi ver o jogo e me levou para lá. Joguei no Britânia até 1970, quando fui pro exército.

SP: Em 1970, você foi convocado para a Seleção Paranaense de Juvenis, para disputar o Campeonato Brasileiro de Seleções. Como foi a experiência?
MR: Eu ainda jogava no Britânia. Na época, em nível nacional para os juvenis, só existia o Campeonato Brasileiro de Seleções. Naquela seleção tinha muita gente boa.  A base era do Coxa: Levir Culpi (hoje técnico de futebol, no Japão) e Dirceuzinho (disputou três Copas do Mundo), por exemplo.  Do Ferroviário tinha o Paulo Santos, lateral esquerdo, que jogava muito. Era um timaço. Perdemos na semifinal para São Paulo, que sediou a competição.

SP: Quem era a fera do time?
MR: Para mim, o Dirceuzinho, do Coxa.

Zito convidando Marinho  para jogar no Santos
SP: Mas você se destacou muito nesta competição. Veio até um convite do poderoso Santos, de Pelé, na época. Como foi isso?
MR: O Zito (astro do Santos e da Seleção Brasileira na década de 60), que era o diretor de futebol do Santos, na época, foi ver o jogo contra São Paulo. Joguei bem esta partida e ele me convidou para ir para Santos, tirar os últimos seis meses do exército em Santos, e jogar no clube. Era um sonho. Jogar no melhor time do mundo, ao lado do ídolo Pelé.

SP: E o que te fez não ir para lá?
MR: Vieram os papéis, o pedido de transferência para o quartel. Na época o Coronel Rossi, do quartel do Boqueirão liberou e tudo ficou acertado com o exército.  O pessoal do Santos iria me buscar no aeroporto em São Paulo. Eu cheguei em casa e falei com meus pais que iria embora, para jogar no Santos. Mas meus pais não permitiram, não queriam que eu saísse de Curitiba. E tive que obedecer.

SP: Você deve ter ficado arrasado, frustrado?
MR: Resolvi parar com tudo e trabalhar. Jogar bola dali para frente, só no amador. Nos times aqui da Vila Sofia. E no quartel, onde já jogava.

SP: No quartel? Existia um time no quartel?
MR: Tinha sim. Servi o exército no quartel do Boqueirão, no 3º Exército. Fomos campeões do sul, pelo 3º Exército. O campeonato envolvia os estados do sul, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Aí fui convocado para a Seleção do Exército, que foi disputar em Belo Horizonte um torneio das Forças Armadas, envolvendo Exército, Marinha e Aeronáutica. Eu era o único aqui do Paraná na competição. Nossa, mas lá não deu nem graça, foi só goleada. O time do exército era muito bom.

SP: Mas e o Britânia?
MR: Além da decepção de não ter ido para o Santos, na época (final do ano de 1970) houve a fusão que fez nascer o Colorado (Ferroviário, Britânia e Palestra Itália se fundiram). Mas não sei o que houve. Tinha um treinador que não queria os meninos do Britânia. O time juvenil inteiro do Britânia foi para o Bamerindus, trabalhar e jogar nos bancários. E largamos o futebol, digamos, “profissional”.

SP: Banco Bamerindus? Quem é que organizava isso?
MR: O Paulo Vecchio que comandava. Fomos até campeões brasileiros de bancários na época. Só trabalhávamos e jogávamos, não treinávamos. O Paulo Vecchio era gente boa, sempre tratou todos muito bem.

SP: Uma curiosidade. A fusão entre Colorado e Pinheiros, que formou o Paraná Clube, em 1989, foi meio traumática. Até hoje, mais de 20 anos passados, ainda existem os que foram e ainda são contra a fusão. E a fusão entre Ferroviário, Britânia e Palestra Itália, que originou o Colorado, em 1971, foi assim também? Houve muita rejeição na época?
MR: Não. Foi bem tranqüilo.  O pessoal da rede, que mandava no Ferroviário, os do Britânia e do Palestra, todos apoiaram a fusão.


O Colorado, onde tudo começou
SP: Como foi que aconteceu a sua volta ao futebol? Ao Colorado?
MR: Em 1974 o seu Geraldo Damasceno, o Geraldino, que me conhecia da época do Britânia assumiu o Colorado e me convidou para fazer um treino lá. Ele ia todo dia no Bamerindus falar comigo, para fazer um coletivo. E eu não aceitava. Um dia, eu disse:  “faz um coletivo no sábado, que é minha folga no banco, que eu vou”.  Ele fez e eu fui lá, num sábado, e treinei. Acabou o treino, peguei minhas coisas e fui embora. Quando já estava lá na rua João Negrão, para pegar o ônibus de volta para casa, veio um menino correndo me dizendo que o seu Hélio Alves (supervisor do Colorado, na época) queria falar comigo. Voltei lá e quando cheguei, já tinha um contrato pronto. Era só eu assinar.

SP: E aí?
MR: Aí “cresceu os olhos” (risos). Vamos dizer que eu ganhava mil cruzeiros no banco, o contrato era de seis ou sete mil. Aí assinei (mais risos).

SP: O início no Colorado foi tranquilo?
MR: Foi sim. O meu primeiro jogo foi contra um time da Romênia, um amistoso. Entrei de ponta esquerda. Depois a coisa foi acontecendo. O seu Geraldo sabia que eu jogava no meio, e fui conquistando o meu espaço. Fomos fazer uma excursão na Europa e as coisas foram se ajustando. 

"Foi um dos melhores jogadores da sua posição, na época. Pelo futebol e pela liderança que exercia. Mesmo sendo de estatura baixa e meio tímido, quando entrava no gramado se transformava em um gigante. Era de poucas palavras, mas quando dava uma “dura” dentro de campo ninguém retrucava, todos obedeciam. Tinha um raciocínio muito rápido e um posicionamento diferenciado. E ainda chegava de trás para fazer alguns golzinhos. Certamente se jogasse no futebol de hoje seria um dos melhores meias do país."                                                                                 (Dionísio Filho - companheiro de Pinheiros, hoje comentarista esportivo)

SP: Teve o apoio do Geraldino neste processo?
MR: Sem dúvida. O Geraldino foi quem deu esta primeira chance. O Loyola, preparador físico da época também ajudou bastante.

SP: E entre os “boleiros”? Quem te estendeu aquela “mão amiga”, nessa hora difícil, que é o começo?
MR: O Zequinha, zagueiro (posteriormente técnico de futebol). Foi até meu padrinho de casamento.

Com a esposa Rose
SP: Falando em casamento, quando você casou?
MR: Casei em 1978. Em 23/03/1978. Com a Rose (Roseli do Rocio Rocha).

SP: Quantos filhos?
MR: Duas meninas. A Andréia, hoje com 30anos e a Juliana, com 25.

SP: Já te deram netos?
MR: Sim. A Andréia dois: o Caio (8) e a Gabriela (11). A Juliana nos deu a Ana Carolina (4).

SP: E o Caio é do ramo? Já joga uma bolinha?
MR: Já sim. Joga em uma escolinha aqui na Vila. Vamos ver se dá prá coisa... (risos).

SP: Voltando ao futebol. Essa primeira passagem pelo Colorado durou até quando?
MR: Até 1977, quando fui para o Operário, de Campo Grande/MS.

O Operário/MS, 3o no Brasileirão de 1977
SP: Nesse ano o Operário/MS fez uma campanha histórica no Brasileirão. O time era bom mesmo?
MR: Time muito bom, muito certinho. Só perdemos na semifinal, para o São Paulo, que acabou campeão. Lembro o time inteiro: Manga; Paulinho, Biluca, Silveira e Escurinho; Édson, Roberto César e Marinho; Tadeu, Everaldo e Peri.

SP: Do Operário você foi para o Guarani/SP?
MR: Não. Do Operário voltei para jogar o Estadual de 1978, pelo Colorado. Foi o ano que perdemos a semifinal para o Atlético/PR, naquele desastre dos quatro gols do Ziquita, nos últimos 15 minutos, quando vencíamos por 4x0, na Baixada. Depois disso é que fui para o Guarani.

SP: O Guarani/SP tinha vencido o Brasileirão de 1978 e jogaria a Libertadores em 79. Como foi a tua ida para lá?
MR: O Carlos Alberto Silva me conhecia do Operário. Em 79 me levou para jogar a Libertadores. Participei de quase todos os jogos. Joguei em quase todas as posições, de volante até ponta esquerda.

SP: Quem era “o cara” daquele Guarani/SP?
MR: O Careca. Com 17 anos, era muito bom, um “cracaço”. E gente finíssima. Morávamos no mesmo quarto, no Brinco de Ouro, enquanto eu não encontrava um apartamento, para levar a minha família.

Com Ari Marques, em treinamento
SP: Depois do Guarani/SP, novamente o Colorado, em 1980. Foi o ano do primeiro e único título do clube. Meio-título, pois dividiu com o Cascavel, naquela polêmica partida do cai-cai. Conte-nos um pouco desse ano, dessas passagens.
MR: Em 1980 voltei pro Colorado e foi o Estadual do meio título. Perdemos de 3x0 lá em Cascavel, que era dirigido pelo Borba Filho. Precisávamos ganhar de quatro, em casa. Aí teve o cai-cai.  Mas merecíamos o título. Aquele ano aconteceu de tudo: gol de goleiro do Cascavel, o Zico, no Joel Mendes; caiu a trave em um jogo; cai-cai no jogo final.

SP: Vocês esperavam que o Cascavel fosse fazer esse famoso cai-cai naquele dia?
MR: Não esperávamos. Nos preparamos para ganhar de pelo menos quatro gols. E tenho certeza de que iríamos fazer e ganhar o título.

SP: Depois dessa decisão como foi a sua trajetória?
MR: Em 1982 fui emprestado ao Botafogo de Ribeirão, com o Osmarzinho, do Coxa. O Raí estava começando na época. O Sócrates estava no Corinthians e aparecia por lá de vez em quando. Voltei para o Colorado para disputar o Paranaense de 1982, e fomos vice, de novo. Perdemos o título para o Atlético/PR, naqueles 4x1 (jogo final, no Couto Pereira). Em 1983 fui emprestado ao Vitória da Bahia. Chegando lá, tínhamos que ganhar nove jogos seguidos para chegar ao BaVi final. E ganhamos. Mas na final perdemos. Houve uns casos que nem gosto de comentar...

SP: Depois disso, a volta ao Colorado e a ida para o Pinheiros?
MR: Em 1984, o Colorado montava um time com jogadores de renome, o Sele-Boca. Pelas conversas com os dirigentes senti que não me queriam mais. O Zico (goleiro), que era muito meu amigo, jogava no Pinheiros. Ele falou com o seu Érton (Coelho de Queirós, presidente do Pinheiros, na época), que me chamou para conversar e acertamos tudo.

O Pinheiros, campeão em 1984 e 1987
SP: O Pinheiros não tinha nenhum título nesta época. Em cinco anos, durante a sua passagem pelo clube, foram dois títulos e três vices-campeonatos. Você imaginava que poderia dar tão certo a tua ida para lá?
MR: O grupo do Pinheiros era muito bom. Quando eu cheguei tinha uma base boa, experiente, com o Toinho (goleiro), Dionísio (Filho, lateral esquerdo, atualmente comentarista esportivo), o Camargo (atacante); e a gurizada que era muito boa. Eu sabia que seria um time muito bom.

SP: O que ficou dessa passagem pelo Pinheiros?
MR: Foi um grupo excelente, desde a diretoria. Todos sempre me trataram bem.  Só fiz amizades ali. Fui muito feliz nos cinco anos que joguei no Pinheiros, de verdade. Foram dois títulos e três vices, e meio “roubados” ainda (risos).

SP: Após a passagem vitoriosa pelo Pinheiros você jogou no interior do estado. Como foi?
MR: Em 1989 fui para o Matsubara. Eles vieram atrás de mim, me fizeram uma proposta interessante e eu fui. O Sueo Matsubara era quem comandava o clube na época. Em dois anos, fizemos duas boas campanhas, sempre entre os primeiros e eles revelaram e venderam uns 12 jogadores, como Ratinho, Tico, Jorge Luis, Jorge Rauli, todos para grandes clubes do Brasil e de fora. Acho que ajudei. Em 1991, eu tinha decidido parar, mas o Poletto (zagueiro e amigo de Marinho até hoje) e o Zico (goleiro) me chamaram, e eu fui para o Sport, de Campo Mourão. Fizemos um bom time.

Robérson (a esq.), um dos muitos que ajudou revelar
SP: Os times em que você jogou sempre revelaram muitos jogadores. Colorado, Pinheiros, Matsubara. Você acredita ter contribuído para isso?
MR: Creio que sim. Alguns meninos que jogaram comigo, como o Ratinho, o Rauly, sempre me disseram que isso aconteceu mesmo. E eu tinha esta característica de dar muita moral para a meninada, dar confiança. Sempre dizia: “vamos lá que você vai ser grande”... incentivava, cobrava... Isso durante toda a minha carreira. Foi de fato uma característica minha.

SP: Pode citar alguns dos técnicos que mais te marcaram?
MR: O Borba Filho, que foi meu técnico na seleção juvenil e no Pinheiros. O Geraldino, que me deu a primeira oportunidade e me dava muita moral. O Castilho, no Operário e o Carlos Alberto Silva, no Guarani.

SP: Quais as diferenças que você enxerga nos atletas de antigamente e nos de hoje?
MR: A diferença é que antigamente não se tinha preocupação com outras coisas que não se jogar bola. Hoje se importam se o campo é ruim, se a chuteira é deste ou daquele jeito ou cor. Antes se tinha mais orgulho de jogar. Hoje em dia é diferente. Na minha época até descalço eu jogaria...

SP: Vamos falar de uma coisa muito comum ao teu talento: de craques. Quem foram os craques de antes da tua fase de atleta?
MR: Pelé e Krugger.

Raríssima espécie de jogador de futebol. Imprescindível a qualquer equipe, pois fazia de tudo um pouco e muito bem. Melhor ainda, fazia seu time jogar nos momentos difíceis e importantes. Muito me orgulho de tê-lo tido como companheiro de clube, como capitão e amigo.  (Carlinhos Neves - Preparador Físico, atualmente servindo à Seleção Brasileira)

SP: E os craques da tua fase de atleta?
MR: Independente da nacionalidade, eu admirava muito o Platini. Por sua técnica, estilo e elegância. No Brasil, depois do Pelé, o fera para mim foi o Zico. Joguei com o Edu, irmão dele, que jogava muito também. E o Careca, do Guarani, muito bom.

Treino no Pinheiros. O primeiro a direita é Carlinhos Neves, hoje preparador físico da Seleção Brasileira
SP: E os craques de hoje? Você acha que estão diferentes?
MR: Tem alguns como os moleques do Santos (Neymar e Ganso), mas a maioria joga mais na base da correria.

SP: Amigos? Algum especial?
MR: Não quero citar nomes, para não esquecer ninguém. O grupo do Pinheiros era muito bom, mas onde passei só fiz amigos.

SP: O que ficou de bom do futebol?
MR: Os lugares onde estive e conheci. E as pessoas que conheci. O que ficou de legal do futebol foi o conhecimento.

SP: E de ruim?
MR: Nada. Nem a concentração, que eu gostava. Dava para descansar bem, se alimentar. E era só um dia. Não se ficava preso, como alguns imaginam.

SP: O que mais te influenciou para se tornar um jogador de futebol?
MR: Meus irmãos jogavam e sempre me levavam junto, para assistir, desde piá. O falecido Luis da Rocha, o Cascudo, (irmão mais velho), muito conhecido no bairro,  me levava nos jogos do Esperança, ou onde ele jogasse. O outro, um pouco mais novo que o Luis, foi um dos melhores controavantes que teve por aí, o Zezo.

SP: Como era o jogador Marinho na visão do Sr. Mario da Rocha hoje?
MR: Não sei bem o que responder. Eu armava e desarmava, gostava de jogar. Errava poucos passes. Um defeito talvez foi não ser finalizador. Eu fazia os artilheiros que jogavam ao meu lado, mas não fazia muitos gols.

Foi o melhor jogador com quem eu tive a "honra de jogar". Aprendi muito com ele. Como me colocar em campo, como reagir a certas situações dentro de um jogo; a ser sério quando se devia agir assim, concentrado quando necessário, e brincalhão quando o ambiente possibilitava. O mais impressionante era ver como que ele, com tão pouca estatura, podia ser tão respeitado. Sua voz era uma ordem dentro de campo. Sem expor a ninguém, comandava a equipe.
Como jogador era um craque. Visão de jogo, posicionamento, um passe incrível, protegia a bola como ninguém, fazia o time jogar. Aos 32 anos mostrava uma condição física invejável. Hoje só poderia dizer,  meu muito obrigado MARINHO, o que eu fui ou fiz dentro do futebol, com certeza em grande parte foi inspirado no “DA ROCHA”. 
Ele foi e sempre será meu ÍDOLO máximo no futebol.                (Marquinhos Benatto - companheiro de Pinheiros, atualmente técnico de futebol no México)

SP: Uma das tuas características principais era a facilidade com que se desmarcava. Mesmo sendo sempre muito marcado pelos adversários, você sempre conseguia estar livre. Concorda com isso? Qual a receita?
MR: Concordo. Era uma das minhas preocupações em campo. Mas vejo como intuição do jogo. Eu gostava que me dessem a bola, sempre. Então procurava estar livre para receber os passes.

SP: Você sofreu com os problemas nos olhos, de visão. Quando percebeu o problema?
MR: Começaram em 2001. Apareceu do nada. De repente, foi de tanto choque durante o tempo em que joguei, sei lá. Quando percebi já era muito tarde. Foi preciso fazer o transplante das duas córneas. Primeiro fiz a do olho direito em 2003. Depois o esquerdo em 2004. Hoje recuperei 50% dos da visão nos dois olhos.  Fiquei mais de um ano completamente cego, antes da primeira cirurgia. Não desejo isso nem para o pior inimigo. É um sufoco. Dá vontade de que o “Homem” chame logo, pois ficar sem enxergar nada é muito complicado.

SP: Voltando ao futebol. O que mais te encantava no futebol, que você copiou para o teu estilo?
MR: Era técnica, a beleza do jogo.  Fui aprendendo. No começo eu era meio  mais avançado, jogava como meia mais ofensivo. Depois me adaptei, um pouco mais recuado.

SP: Hoje é diferente? O futebol mudou?
MR: Antes era mais amor à camisa. Hoje só se vê o dinheiro. Empresários enriquecendo...

SP: Alguma coisa no futebol que você não tenha feito faltou alguma coisa?
MR: Jogando eu fiz muitas coisas, ajudei muita gente. Criei filhos e netos. Em todo lugar que chego sou sempre bem recebido. Acho que não faltou nada a fazer.

SP: O que o Mario da Rocha, do alto de sua vasta experiência de jogador de futebol diria a um menino que está começando?
MR: Tudo se resume a uma palavra: Humildade. Não querer dar uma de “bom”, que só você sabe das coisas. Tem que ser simples e humilde. Estudar, treinar muito e jogar. E dar o máximo de si, sempre, em todos os dias, treinando ou jogando.

SP: Marinho, deixe-nos uma mensagem final.
MR: Só quero deixar um abraço para todos os amigos. De todas as áreas: jogadores, técnicos, torcedores, profissionais das rádios, jornais e televisões. Onde sempre fiz muitos amigos, mas muitos mesmos. Que sejam todos muito felizes.