quarta-feira, 2 de março de 2011

"HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DO CABEÇA" 1989... E não fomos à Juiz de Fora jogar contra o Santos


1989...  E NÃO FOMOS À JUIZ DE FORA JOGAR CONTRA O SANTOS

Sábado, 21 de outubro de 1989. Chegamos ao Couto Pereira para o treinamento final, visando o jogo, da última rodada classificatória, do Campeonato Brasileiro da Série A, que seria contra o Santos, em Juiz de Fora/MG, pois o Coritiba havia sido penalizado com a perda de um mando de campo, motivada pela invasão do gramado, por alguns torcedores, que aconteceu na partida contra o Sport Recife, ocorrido semanas antes daquela data.
Fazíamos uma campanha muito boa, naquele ano, e dependíamos de apenas um empate, contra o Santos, para garantir a classificação à próxima fase. E mesmo com a derrota poderíamos nos classificar, pois somente uma combinação improvável de resultados nos afastaria deste objetivo. Como o Santos não tinha mais chances de classificação éramos considerados favoritos à vitória, condição ainda mais incontestável levando-se em conta o nível técnico das equipes, naquela ocasião.
Porém, a diretoria alviverde da época discordava da marcação da partida em horário diferente das outras, daquela rodada. Por não existir iluminação no estádio de Juiz de Fora, local escolhido pela CBF para a realização do confronto, o jogo estava marcado para as 15:30. O restante da rodada, as 17:00. Preocupados com o fato de que o Vasco (equipe carioca, portanto, para os dirigentes do clube, favorecida pela CBF) seria um dos interessados em nossa derrota, para assim poder buscar a classificação, os mandatários coxas tentaram e obtiveram uma liminar para não disputar a tal partida, que deveria ser transferida para a quarta-feira seguinte.
Somente fomos informados de que não mais viajaríamos para Juiz de Fora durante o treinamento, da manhã de sábado. Pela programação normal, treinaríamos, almoçaríamos e logo em seguida seguiríamos para o aeroporto. Já chegamos ao clube, naquele dia, prontos para a viagem. Entretanto, o vice-presidente de futebol da época, Dr. João Carlos Vialle, interrompeu o treinamento nos dando a notícia de que não iríamos seguir para Minas Gerais, explicando a decisão da diretoria, que havia conseguido a fatídica liminar.
A reação dos atletas foi imediata: de maneira unânime, todos se posicionaram contra a ordem do clube, solicitando que mantivéssemos a programação e fossemos para o jogo. Nós, atletas, tínhamos a certeza que venceríamos o Santos e garantiríamos a nossa classificação, inclusive informando ao Dr. Vialle que alguns dos nosso jogadores conversaram, naquela semana, com alguns atletas do Santos, e que estes os informaram que o clima, entre eles era de “final de feira”, pois sem chances de classificação, já se preocupavam mais com o fato de ficarem sem calendário para o restante do ano, do que com a partida em si. Inclusive vários dos titulares santistas não viajariam para nos enfrentar.
Mesmo assim a posição do vice-presidente não se modificou. Alegando que aquilo já era definitivo e que estaria nas mãos do Departamento Jurídico do clube, Vialle nos ordenou que após o treinamento, retornássemos para casa, e que a comissão técnica definiria a programação de treinamentos para a sequência.  Capitão da equipe na ocasião, o zagueiro Vica, em uma última tentativa, argumentou:
                - Dr. Vialle, já vivi situação semelhante e que terminou de maneira catastrófica. Quando jogava no Fluminense, em 86, tínhamos uma partida no interior do Rio, pelo Estadual. Como cinco atletas do grupo contraíram dengue, o clube conseguiu uma liminar para não jogar naquela data, alegando que isto fazia parte do regulamento. Resultado: a liminar foi caçada, perdemos os pontos previstos no regulamento e perdemos o turno, que já estava praticamente conquistado. E ficamos fora da possibilidade de brigar pelo inédito tetra-campeonato (o Flu foi tri-campeão em 83/84/85). Se não deu certo com o Fluminense, pode não dar certo com a gente. Por favor, vamos viajar e jogar.
Mais uma vez a resposta do Dr. Vialle foi a mesma: não poderíamos ir contra uma decisão jurídica, já que o Coritiba, através do seu Departamento Jurídico, havia conseguido a liminar, e tinha a certeza de que estávamos totalmente respaldados pela lei. E ainda completou que até a viagem já havia sido cancelada, portanto não teríamos mais as passagens reservadas, para seguirmos até Juiz de Fora.
Ainda assim, após o treinamento, fizemos uma reunião entre jogadores e comissão técnica, e comunicamos nossa decisão à direção: Por nós, gostaríamos de viajar e jogar. Ficaríamos de prontidão, inclusive nos colocando a disposição para ir de ônibus até Minas Gerais, pois se saíssemos por volta das duas da tarde, chegaríamos a Juiz de Fora no início da madrugada de domingo. Aguardaríamos um telefonema para retornarmos ao clube e embarcarmos. Mas este telefonema nunca aconteceu.
E o que aconteceu já é de conhecimento de todos. O Coritiba foi rebaixado, primeiro para a segunda, posteriormente (por entrar na justiça comum) para a terceira divisão do futebol brasileiro. E nós, atletas, ficamos com aquele gostinho de terem nos tirado o “doce da boca”. Não posso garantir que seríamos campeões brasileiros, naquele ano (o que não seria absurdo nenhum, pela qualidade da equipe), mas imagino que, pelo menos entre os quatro primeiros colocados, certamente estaríamos. E tenho certeza que Vica, Tostão, Osvaldo, Carlos Alberto Dias, Chicão, Pecos, Ditinho, Kazú, Marildo, enfim, todo o grupo de atletas da equipe Coxa de 89, pensa da mesma forma.
Às vezes olho para aquele espaço vazio, na parede de casa, e chego a enxergar o quadro, com a faixa de campeão brasileiro de 89. Mas ficou no sonho. Ficou naquele sábado... triste sábado.

2 comentários:

  1. Um dos piores momentos da minha vida. Chorei muito ao ver o time ser rebaixado na caneta num ano em que tínhamos força para buscar o bicampeonato brasileiro.
    Por causa da teimosia de dois ou três juvenis da diretoria, a história do clube e do futebol paranaense foi modificada e, ao invés da segunda estrela dourada na camisa, ficou uma mancha na história do clube.

    ResponderExcluir
  2. Esta decisão brecou o crescimento inevitável do COXA como grande força do futebol brasileiro...que pena...dirigentes acreditaram na "justiça" brasileira...ali o sr. teixeira começava seu reinado, que mais tarde acabaria com o futebol brasileiro...
    Que saudades daquele timaço de 1989!!!!

    ResponderExcluir