terça-feira, 29 de março de 2011

"DIA DE POESIA" Parabéns, Curitiba!!! De presente, Paulo Leminski


Hoje, no "Dia de Poesia", uma singela  homenagem aos 318 anos de nossa Curitiba: um pouco da obra de PAULO LEMINSKI, nosso poeta maior.

 
1.

Amor, então,
também acaba?
Não, que eu saiba.
O que eu sei
é que se transforma
numa matéria-prima
que a vida se encarrega
de transformar em raiva.
Ou em rima.

2.

apagar-me
diluir-me
desmanchar-me
até que depois
de mim
de nós
de tudo
não reste mais
que o charme


3.

um homem com uma dor
é muito mais elegante
caminha assim de lado
como se chegando atrasado
andasse mais adiante

carrega o peso da dor
como se portasse medalhas
uma coroa um milhão de dólares
ou coisa que os valha

ópios édens analgésicos
não me toquem nessa dor
ela é tudo que me sobra
sofrer, vai ser minha última obra

4.
en la lucha de clases
todas las armas son buenas
piedras
moches
poemas

5.

o pauloleminski
é um cachorro louco
que deve ser morto
a pau a pedra
a fogo a pique
senão é bem capaz
o filhodaputa
de fazer chover
em nosso piquenique

6.

lembrem de mim
como de um
que ouvia a chuva
como quem assiste missa
como quem hesita, mestiça,
entre a pressa e a preguiça

7.

nem toda hora
é obra
nem toda obra
é prima
algumas são mães
outras irmãs
algumas
clima

8.

parem
eu confesso
sou poeta

cada manhã que nasce
me nasce
uma rosa na face

parem
eu confesso
sou poeta

só meu amor é meu deus

eu sou o seu profeta

9.

desta vez não vai ter neve como em petrogrado aquele dia
o céu vai estar limpo e o sol brilhando
você dormindo e eu sonhando

nem casacos nem cossacos como em petrogrado aquele dia
apenas você nua e eu como nasci
eu dormindo e você sonhando

não vai mais ter multidões gritando como em petrogrado
[aquele dia
silêncio nós dois murmúrios azuis
eu e você dormindo e sonhando

nunca mais vai ter um dia como em petrogrado aquele dia
nada como um dia indo atrás do outro vindo
você e eu sonhando e dormindo

10.

um dia
a gente ia ser homero
a obra nada menos que uma ilíada

depois
a barra pesando
dava pra ser aí um rimbaud
um ungaretti um fernando pessoa qualquer
um lorca um eluárd um ginsberg

por fim
acabamos o pequeno poeta de província
que sempre fomos
por trás de tantas máscaras
que o tempo tratou como a flores

11.

moinho de versos
movido a vento
em noites de boemia

vai vir o dia
quando tudo que eu diga
seja poesia

12.
já me matei faz muito tempo
me matei quando o tempo era escasso
e o que havia entre o tempo e o espaço
era o de sempre
nunca mesmo o sempre passo

morrer faz bem à vista e ao baço
melhora o ritmo do pulso
e clareia a alma

morrer de vez em quando
é a única coisa que me acalma

13.

podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano

14.

quando eu tiver setenta anos
então vai acabar esta minha adolescência

vou largar da vida louca
e terminar minha livre docência

vou fazer o que meu pai quer
começar a vida com passo perfeito

vou fazer o que minha mãe deseja
aproveitar as oportunidades
de virar um pilar da sociedade
e terminar meu curso de direito

então ver tudo em sã consciência
quando acabar esta adolescência

15.  e  16.

LÁPIDE 1
epitáfio para o corpo

Aqui jaz um grande poeta.
Nada deixou escrito.
Este silêncio, acredito
são suas obras completas.

LÁPIDE 2
epitáfio para a alma

aqui jaz um artista
mestre em disfarces

viver
com a intensidade da arte
levou-o ao infarte

deus tenha pena
dos seus disfarces.



segunda-feira, 28 de março de 2011

SEGUNDA É DIA DE ESPORTE


Voltando com as colunas diárias. Segunda é dia de esporte!!!

Coxa imbatível   -   O Coritiba venceu mais uma. A 12ª vitória seguida em Estaduais, igualando o recorde do Atlético/PR, de 2007/2008. A vítima da vez foi o Iraty, que mesmo em seus domínios, não conseguiu superar o Coxa. Já aos 20 segundos de jogo, Anderson Aquino abriu o placar. Aos 10 minutos já estava 2x0. No final, 4x2, para o Verdão, com dois gols do meia Davi, co-artilheiro do certame. A nota preocupante foi a contusão de Marcos Aurélio. O meia atacante saiu de campo com lesão muscular na coxa esquerda. Deverá desfalcar a equipe por aproximadamente 20 dias.
Furacão vence, mas não convence   -   O Atlético/PR, no jogo festivo dos seus 87 anos, venceu o Cascavel, por 2x0, na Arena da Baixada. Mas não foi aquela vitória aguardada pelo torcedor. Confusa e sem inspiração, a equipe rubro-negra teve muita dificuldade em superar a marcação do “lanterna” da competição.  Robston, o último reforço a chegar, mostrou-se apático e ineficiente. Não foi efetivo na marcação e pouco auxiliou na armação ofensiva da equipe. Na segunda etapa deu lugar a Kléberson, que  se apresentou bem. Lucas e Adaílton foram os goleadores da noite. Deu para o gasto.
Paraná foi “demolido”pelo Paranavaí   -   O Tricolor, que vinha se recuperando tecnicamente na competição, teve uma recaída surpreendente, em Paranavaí. Foi humilhado pelo “Vermelinho”, que chegou a abrir 4x0, na metade da segunda etapa. Neste momento, a equipe paranista mostrava-se totalmente abatida em campo. Mas conseguiu fazer dois gols em três minutos, mascarando um pouco da vergonha que foi a partida. Um domingo prá esquecer.
100 vezes Rogério Ceni   -   Domingo perfeito para o goleiro do tricolor paulista, Rogério Ceni. Marcou, de falta, o seu centésimo gol. E foi o gol que deu a vitória ao São Paulo, por 2x1, sobre o arquirival Corinthians. E ainda foi o gol que quebrou um tabu de mais de três anos sem vitórias do tricolor sobre o clube do Parque São Jorge. Presente perfeito e merecido para um dos maiores ídolos tricolores de todos os tempos.
Dada a largada do Mundial de Fórmula 1. Vettel absoluto   -   Na madrugada de domingo, na Austrália, os motores da Fórmula 1 voltaram a roncar forte. Regras novas, pneus novos, mas o vencedor foi o mesmo. O alemão Sabastian Vettel fez a pole, liderou toda a corrida e venceu com facilidade. Hamilton no segundo posto e o russo Petrov completaram o pódio. Massa foi nono, mostrando desempenho bem abaixo do esperado. Rubinho bateu em Roseberg, ao errar em uma tentativa de ultrapassagem. Horas depois, os dois pilotos da Sauber forma desclassificados da prova, por irregularidades na asa traseira de seus carros, dando de presente a sétima colocação ao brasileiro Felipe Massa.

quarta-feira, 23 de março de 2011

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DO "CABEÇA": Cianorte 3x0 Corinthians Paulista


Cianorte 3x0 Corinthians Paulista

Final do ano de 2003. O então iniciante técnico de futebol Caio Jr. me convidou para trabalhar, como seu auxiliar técnico, na recém promovida equipe do Cianorte. De pronto aceitei o convite. Viajamos para o noroeste do estado e iniciamos um árduo trabalho de montagem do elenco para 2004. E nesta temporada ganhamos o título do interior, ficando em 3º lugar no Campeonato Paranaense. Esta campanha nos credenciou a disputar a Copa do Brasil de 2005. E este é o tema de hoje: o incrível jogo contra o Corinthians Paulista.
                Na primeira rodada da Copa do Brasil de 2005, o Cianorte foi sorteado para enfrentar o CENE, equipe de Campo Grande/MS. Vencemos por 2x1, em casa, e fomos derrotados pelo mesmo placar, em Campo Grande. Vencemos nos pênaltis. E esta vitória nos credenciou a enfrentar o poderoso Corinthians Paulista, na próxima fase. O Timão estreava Tevez, Mascherano e o treinador Daniel Passarela. Naquele momento, era, sem dúvida, a equipe mais badalada do futebol brasileiro.
                Pelo regulamento, até a segunda rodada da Copa do Brasil, a equipe que consegue vencer, jogando como visitante a partida de ida, por mais de um gol de diferença, já garante a classificação para a terceira rodada, sem necessidade do jogo de volta. E esta era a expectativa. Poucas pessoas acreditavam na possibilidade de levarmos a decisão para o jogo de volta, em São Paulo. Creio que somente nós, que trabalhávamos e vivíamos o dia-a-dia da equipe, vislumbrávamos um resultado que nos proporcionasse disputar a segunda partida.
                Pela grandiosidade o evento, o jogo seria disputado na cidade de Maringá, pois o estádio de lá comporta 30.000 assistentes, bem diferente da capacidade do estádio de Cianorte, que é de 3.000 pessoas. Vale destacar que a região norte do estado do Paraná é de colonização paulista. E o público local torce pelas equipes paulistas, em especial, o Corinthians. Portanto, além de segurar o poderoso Timão, ainda enfrentaríamos um estádio cheio de torcedores do rival.
                O Cianorte retornou ao futebol profissional somente em 2002. O clube ainda não tinha três anos de vida e já encararia esta parada dura. Difícil dentro do campo e em termos de organização. Tanto eu como o Caio Jr. nos desdobramos para auxiliar, no que nos fosse possível, os dirigentes na organização de tal evento. Na tarde do jogo, auxiliamos o supervisor Fabiano (Xhá)- ex-preparador físico da equipe - a separar as centenas de credenciais da imprensa, que deveriam ser distribuídas antes da partida. Eram muitos os detalhes e sozinho, Fabiano não daria conta.
                Enfim chegou a hora do espetáculo. Depois de uma brilhante preleção de Caio Jr., onde ele elevou o moral do grupo ao máximo, na expectativa de que os atletas pudessem, dentro do possível, entrar em campo seguros e confiantes, rumamos ao estádio. Uma verdadeira multidão se espremia em longas filas. Dos vestiários partimos para o aquecimento dentro de campo, lado a lado com os atletas corintianos, que levavam à loucura os mais de 30.000 fanáticos torcedores.
                E a bola rolou. Foi o jogo transmitido pela Rede Globo, para todo o Brasil, e para vários países, pela Globo Internacional. O Cianorte, modesto clube do noroeste do Paraná, era o centro das atenções do futebol brasileiro. E nem eu, nem o Caio Jr., e nem o mais otimista dos torcedores ou dirigentes poderia imaginar o desfecho da história desta partida: Cianorte 3x0 Corinthians, com direito ao terceiro gol, numa linda “bicicleta”, do centroavante Márcio. E poderia ter sido de mais. Na segunda etapa, principalmente, desperdiçamos algumas oportunidades de ampliar o marcador. Tudo funcionou perfeitamente. O esquema defensivo anulou as “estrelas” do Corinthians e o nosso ataque foi fulminante.
                Pelo rádio, eu e o Caio Jr. conversávamos, incrédulos, não sobre o que fazer para melhorar, mas sobre o que fazer para não deixar cair o excepcional rendimento. Ao final, com os 3x0 definidos, foi só comemorar. Os abraços misturavam-se a sorrisos, lágrimas e suor, dentro do vestiário. Foi a vitória do pequeno sobre o gigante.
                Ah... o jogo da volta? Fica para outro dia, em outro artigo. Quero ficar, mais um pouquinho, com a doce lembrança de cada segundo daquela noite inesquecível.

segunda-feira, 14 de março de 2011

O FUTEBOL MODERNO E A TÁTICA DE JOGO


O FUTEBOL MODERNO E A TÁTICA DE JOGO

Depois da brilhante vitória do Coritiba, no Paratiba de ontem, por 4x2, estabeleceu-se uma polêmica a respeito da escalação do Paraná Clube. O treinador Ricardo Pinto vinha iniciando os jogos com três atacantes. Para a partida contra o Coxa, no Couto Pereira, optou per entrar com somente dois atacantes, colocando mais um volante, reforçando assim a marcação no meio campo. Para alguns, esta ação tornou a equipe retrancada. Para outros a atitude foi medrosa, covarde. Respeito a opinião de todos e colocarei a minha posição, não na expectativa de ser o “dono da verdade”, mas de poder auxiliar na reflexão sobre o assunto.
Inicialmente, não vejo como definir uma equipe que entra com dois atacantes velozes (Kelvin e Diego), um meia de criatividade (Kerlon) e dois laterais ofensivos (Paulo Henrique e Henrique) como retrancada ou medrosa. O fato de se optar por não iniciar com três atacantes deve-se mais a percepção do treinador Ricardo Pinto (e todos os que tenham um mínimo de coerência e conhecimento sobre futebol) de que a equipe atual do Coritiba é mais forte, individual e taticamente, que a equipe do Paraná Clube. Não defino a escolha como medrosa, e sim como opção tática, ao meu ver, perfeitamente coerente.
No Brasil, país onde todos os torcedores são um pouco “treinadores”, existe uma visão equivocada, na questão tática. O técnico de futebol que buscar alternativas táticas durante as competições é taxado de louco, inconsequente ou inexperiente, se a opção for pela ofensividade e de retranqueiro, covarde ou medroso, se a opção for por se fortalecer a marcação. Porém, somente quando as alternativas resultam em insucessos, pois, em caso de vitória, será considerado “gênio”, mesmo que entre em campo com 10 zagueiros ou 10 atacantes.
Eu enxergo, na ação de Ricardo Pinto, tanta clareza e coerência, que chega a me surpreender opiniões contrárias, não de torcedores, passionais por essência, mas de profissionais da área do futebol. Se todos concordam que o time do Coritiba é muito forte, o mais forte atualmente, e de que no meio campo alviverde está a sua maior força, por que não se preocupar em marcar melhor este setor? Principalmente se, como foi o caso do Paraná de ontem, pode-se usar (hipoteticamente) a velocidade de Kelvin e Diego, para os contra-ataques em cima dos zagueiros do Coxa, bem menos velozes que os dois. Contando ainda com a ofensividade do meia Kerlon e o apoio qualificado dos laterias tricolores. Somente porque o Paraná venceu as quatro últimas partidas, terá o treinador a obrigatoriedade de escalar a mesma equipe, independente de se analisar a produção dos setores, nestas partidas, ou da qualidade do adversário seguinte? Creio que não.
Analisando a produção do tricolor, na última partida fora de casa, (vitória por 1x0,contra o Corinthians Paranaense), nota-se que o resultado foi conquistado também pelo esforço e qualidade do Paraná (que iniciou com três atacantes), mas muito mais pelo fato de o Corinthians ter dois atletas expulsos. No primeiro tempo, com igualdade numérica, o “timãozinho” foi superior, dominou o despovoado meio campo tricolor, e só não terminou a etapa na frente porque o goleiro Thiago Rodrigues operou alguns milagres. Veio a segunda etapa, o gol do Paraná e as duas expulsões. Aí o jogo se definiu. Portanto, ficou evidente a dificuldade do tricolor em marcar o meio campo corintiano, com a formação de três atacantes. Isto, por si, já explicaria a opção de Ricardo Pinto em se reforçar no setor para enfrentar o meio campo coxa-branca, bem mais forte que o do Corinthians.
Para ilustrar a minha posição de que as variantes táticas são importantes e que se pode, e deve, definir a equipe também pelas características dos adversários, recorro à melhor equipe de futebol do mundo, na atualidade: o Barcelona. A equipe espanhola, mesmo contando com os três melhores atletas da atualidade - Messi, Xavi e Iniesta – alterna suas escalações iniciais, ora entrando com o defensivo volante argentino Mascherano, ora entrando com mais um atacante. Na partida da última terça-feira, quando só a vitória contra o Arsenal, de Londres, classificaria o Barça, o técnico Pepe Guardiola optou por entrar com  Mascherano, como volante, e não com Xavi mais recuado e mais um atacante. Evidentemente pela preocupação em marcar o excepcional meia Fábregas, do Arsenal. E ninguém o chamou de retranqueiro ou covarde. Venceu e classificou o Barcelona para a fase seguinte. Talvez, se tivesse sido mais “corajoso”, quem poderia estar comemorando a classificação seria a equipe inglesa. Ou não, ninguém pode afirmar.
Relembro o exemplo que vivi, como atleta, na badalada equipe do Coritiba, de 1989. Equipe técnica, que marcou época por apresentar um meio campo muito criativo e habilidoso, composto por Osvaldo e eu, mais recuados, e Carlos Alberto Dias e Tostão, mais à frente. Esta formação atuou quase que a competição inteira. Ao chegaremos nas semifinais, contra o Atlético/PR, o nosso técnico, Edu Coimbra, alterou a tática da equipe, sacando o japonês Kazu, atacante agudo, que atuava pela ponta-esquerda, e colocando o Marildo, volante de forte marcação, para jogar ao lado de Osvaldo, fazendo com que eu, Carlos Alberto Dias e Tostão atuássemos mais a frente, com apenas Chicão, como atacante de origem. Resultado: um passeio no rubro-negro, nas partidas semifinais e a conquista posterior do título. Não me recordo de ninguém chamando o Eduzinho de medroso, covarde ou retranqueiro.
Portanto, o que se busca, em uma equipe de futebol, é o equilíbrio. E este não tem nada a ver com a quantidade de zagueiros, volantes ou atacantes. Está na sintonia entre os atletas. Por vezes, isto ocorre com perfeição, como é o caso da equipe atual do Coritiba. Outras vezes, e na maioria delas, necessita-se de mais tempo e muito trabalho. No futebol moderno não existe mais espaço para o antiquado pensamento de que não se pode, ou deve, buscar alternativas táticas, de acordo com os adversários. Este é um pensamento arcaico, dos tempos em que o Brasil se via soberano, e se achava “o melhor” e sem adversários. Hoje tudo mudou. E temos que mudar este pensamento – imprensa, torcedores, atletas e profissionais da bola – se não quisermos, em breve, vermos o nosso futebol se tornar coadjuvante, no cenário internacional.

quarta-feira, 2 de março de 2011

"HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DO CABEÇA" 1989... E não fomos à Juiz de Fora jogar contra o Santos


1989...  E NÃO FOMOS À JUIZ DE FORA JOGAR CONTRA O SANTOS

Sábado, 21 de outubro de 1989. Chegamos ao Couto Pereira para o treinamento final, visando o jogo, da última rodada classificatória, do Campeonato Brasileiro da Série A, que seria contra o Santos, em Juiz de Fora/MG, pois o Coritiba havia sido penalizado com a perda de um mando de campo, motivada pela invasão do gramado, por alguns torcedores, que aconteceu na partida contra o Sport Recife, ocorrido semanas antes daquela data.
Fazíamos uma campanha muito boa, naquele ano, e dependíamos de apenas um empate, contra o Santos, para garantir a classificação à próxima fase. E mesmo com a derrota poderíamos nos classificar, pois somente uma combinação improvável de resultados nos afastaria deste objetivo. Como o Santos não tinha mais chances de classificação éramos considerados favoritos à vitória, condição ainda mais incontestável levando-se em conta o nível técnico das equipes, naquela ocasião.
Porém, a diretoria alviverde da época discordava da marcação da partida em horário diferente das outras, daquela rodada. Por não existir iluminação no estádio de Juiz de Fora, local escolhido pela CBF para a realização do confronto, o jogo estava marcado para as 15:30. O restante da rodada, as 17:00. Preocupados com o fato de que o Vasco (equipe carioca, portanto, para os dirigentes do clube, favorecida pela CBF) seria um dos interessados em nossa derrota, para assim poder buscar a classificação, os mandatários coxas tentaram e obtiveram uma liminar para não disputar a tal partida, que deveria ser transferida para a quarta-feira seguinte.
Somente fomos informados de que não mais viajaríamos para Juiz de Fora durante o treinamento, da manhã de sábado. Pela programação normal, treinaríamos, almoçaríamos e logo em seguida seguiríamos para o aeroporto. Já chegamos ao clube, naquele dia, prontos para a viagem. Entretanto, o vice-presidente de futebol da época, Dr. João Carlos Vialle, interrompeu o treinamento nos dando a notícia de que não iríamos seguir para Minas Gerais, explicando a decisão da diretoria, que havia conseguido a fatídica liminar.
A reação dos atletas foi imediata: de maneira unânime, todos se posicionaram contra a ordem do clube, solicitando que mantivéssemos a programação e fossemos para o jogo. Nós, atletas, tínhamos a certeza que venceríamos o Santos e garantiríamos a nossa classificação, inclusive informando ao Dr. Vialle que alguns dos nosso jogadores conversaram, naquela semana, com alguns atletas do Santos, e que estes os informaram que o clima, entre eles era de “final de feira”, pois sem chances de classificação, já se preocupavam mais com o fato de ficarem sem calendário para o restante do ano, do que com a partida em si. Inclusive vários dos titulares santistas não viajariam para nos enfrentar.
Mesmo assim a posição do vice-presidente não se modificou. Alegando que aquilo já era definitivo e que estaria nas mãos do Departamento Jurídico do clube, Vialle nos ordenou que após o treinamento, retornássemos para casa, e que a comissão técnica definiria a programação de treinamentos para a sequência.  Capitão da equipe na ocasião, o zagueiro Vica, em uma última tentativa, argumentou:
                - Dr. Vialle, já vivi situação semelhante e que terminou de maneira catastrófica. Quando jogava no Fluminense, em 86, tínhamos uma partida no interior do Rio, pelo Estadual. Como cinco atletas do grupo contraíram dengue, o clube conseguiu uma liminar para não jogar naquela data, alegando que isto fazia parte do regulamento. Resultado: a liminar foi caçada, perdemos os pontos previstos no regulamento e perdemos o turno, que já estava praticamente conquistado. E ficamos fora da possibilidade de brigar pelo inédito tetra-campeonato (o Flu foi tri-campeão em 83/84/85). Se não deu certo com o Fluminense, pode não dar certo com a gente. Por favor, vamos viajar e jogar.
Mais uma vez a resposta do Dr. Vialle foi a mesma: não poderíamos ir contra uma decisão jurídica, já que o Coritiba, através do seu Departamento Jurídico, havia conseguido a liminar, e tinha a certeza de que estávamos totalmente respaldados pela lei. E ainda completou que até a viagem já havia sido cancelada, portanto não teríamos mais as passagens reservadas, para seguirmos até Juiz de Fora.
Ainda assim, após o treinamento, fizemos uma reunião entre jogadores e comissão técnica, e comunicamos nossa decisão à direção: Por nós, gostaríamos de viajar e jogar. Ficaríamos de prontidão, inclusive nos colocando a disposição para ir de ônibus até Minas Gerais, pois se saíssemos por volta das duas da tarde, chegaríamos a Juiz de Fora no início da madrugada de domingo. Aguardaríamos um telefonema para retornarmos ao clube e embarcarmos. Mas este telefonema nunca aconteceu.
E o que aconteceu já é de conhecimento de todos. O Coritiba foi rebaixado, primeiro para a segunda, posteriormente (por entrar na justiça comum) para a terceira divisão do futebol brasileiro. E nós, atletas, ficamos com aquele gostinho de terem nos tirado o “doce da boca”. Não posso garantir que seríamos campeões brasileiros, naquele ano (o que não seria absurdo nenhum, pela qualidade da equipe), mas imagino que, pelo menos entre os quatro primeiros colocados, certamente estaríamos. E tenho certeza que Vica, Tostão, Osvaldo, Carlos Alberto Dias, Chicão, Pecos, Ditinho, Kazú, Marildo, enfim, todo o grupo de atletas da equipe Coxa de 89, pensa da mesma forma.
Às vezes olho para aquele espaço vazio, na parede de casa, e chego a enxergar o quadro, com a faixa de campeão brasileiro de 89. Mas ficou no sonho. Ficou naquele sábado... triste sábado.