quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

1990: O ATLETIBA DE BERG


                Este ano completaram-se 20 anos da histórica final do Campeonato Paranaense de 1990. Que foi decidido com um gol contra do zagueiro Berg, no segundo Atletiba da final. Clássico inesquecível, que acabou com alegria rubro-negra e tristeza coxa-branca. E de forma lamentável, pois a “culpa” da derrota acabou nas costas de somente uma pessoa: meu grande amigo Berg.       
                Mesmo com a melhor campanha do Coritiba em todo o campeonato, era o Atlético que tinha a vantagem de dois resultados iguais nas finais. Para esta etapa foram desprezados os pontos ganhos nos dois turnos iniciais, onde o Coxa abriu mais de 10 pontos de vantagem sobre o segundo colocado, que foi o Atlético, e eram levados em conta somente os pontos conquistados no hexagonal que serviu de classificatório para as semifinais. E nessa etapa o Furacão fez um ponto a mais que o Coritiba. E este ponto acabaria decidindo o campeonato.
                No primeiro Atletiba das finais não pude jogar por conta de uma lesão muscular na coxa direita, que já tinha me tirado das semifinais contra o Paraná Clube. Paulo César Carpegiani, nosso treinador no Coxa daquele ano, achou melhor me poupar para o último e realmente decisivo confronto. Neste primeiro jogo, em uma quarta-feira à noite, com o Couto Pereira lotado, vencíamos por 1x0 até o último minuto da partida. Quando Gilberto Costa (um dos destaques do rubro-negro nesta campanha) cobrou falta da lateral da área, encontrando o centroavante Dirceu livre, no primeiro pau, para empatar a primeira batalha. E assim o Atlético chegou ao domingo podendo apenas empatar o clássico para ficar com o título.
                Do domingo da final tenho tantas histórias e estórias a contar que precisarei dividi-las em partes. Hoje somente falarei do jogo em si: do início da partida até o fatídico gol contra de Berg. Novamente com o estádio totalmente cheio, naquele domingo de sol, começamos a batalha que definiria o campeão paranaense daquele ano. Eu entrei em campo ainda sentindo muitas dores na coxa lesionada, mas havia pedido ao Carpegiani que me colocasse em campo, de qualquer maneira, pois sentia que poderia ajudar, principalmente porque naquele ano muitos gols aconteceram em cobranças de escanteios efetuadas por mim, e acreditava que isso ocorreria também na final. E o chefe confiou em mim e me escalou para o combate. Antes dos cinco minutos de jogo o Furacão abriu o placar com Dirceu. O Coxa empatou antes dos 20 minutos deste primeiro tempo, com Pachequinho. Aos 45 minutos do primeiro tempo aconteceu o que eu previa: escanteio pela esquerda. Ajeitei a bola e cobrei com muito efeito em direção ao gol. A bola fez uma curva acentuada, ajudada pelo vento que soprava a favor, e quase caiu dentro do gol, obrigando o goleiro Marola a espalmá-la. Porém o toque do arqueiro foi fraco e a bola caiu nos pés de Berg, que só empurrou a pelota para dentro. 2x1. Festa alviverde. Seria o gol do título. Que seria merecido, pois o Coritiba era efetivamente a melhor equipe do ano.
                Fomos para os vestiários muito felizes pela vantagem. Eu, conforme havia combinado com Carpegiani, imaginava sair do jogo, pois as dores na coxa eram insuportáveis. Já havia cumprido a promessa de bater um escanteio que resultaria em gol. Cumprimentei os companheiros rapidamente, falei com o treinador, que me fez sinal de que já estava bom para mim e que iria me substituir. Tirei o uniforme e corri para o banho, a fim de conseguir assistir ao segundo tempo desde o início. Foi quando surpreendentemente vieram Carpegiani e Gilberto Tim, nosso preparador físico, falar comigo ainda embaixo do chuveiro. Tim argumentava que eu não deveria sair, pois estava bem na partida, e que a equipe precisaria da minha presença. Argumentei aos dois que já não suportava mais as dores na perna lesionada. Porém, devido à insistência do nosso preparador físico, Carpegiani se convenceu e me pediu que me vestisse, pois retornaria para mais 15 minutos no segundo tempo. Aceitei meio contrariado, mas ordens são ordens. Voltamos para a segunda e etapa. Lá pelos 15 minutos comuniquei ao Carpegiani que não dava mais para mim. Quase não conseguia mais caminhar. De pronto, nosso técnico mandou o zagueiro Vica assinar a súmula para entrar em meu lugar. Aí ocorreu o lance que decidiu o jogo e o Campeonato.
                Lateral a favor do Atlético, na lateral esquerda, um pouco antes da área grande. O lateral rubro-negro Odemílson cobrou em direção à área. Seria a única ação de um atleta atleticano até a concretização do gol que lhes daria o título. A bola vinha em minha direção e me preparei para cortá-la. Na ânsia de também fazer o mesmo, Hélcio - nosso volante de marcação – acabou tocando levemente em minhas costas, me desequilibrando no momento da impulsão. Acabei cabeceando a bola para trás, ao invés de impulsioná-la para frente. A pelota caiu entre o atacante rubro-negro Dirceu e o nosso zagueiro Jorjão, que ao invés de tocá-la para fora (para escanteio ou lateral), acabou chutando para o alto, em direção ao meio da área. E lá foi a bola rumo à cabeça de Berg. O nosso goleiro Gérson estava bem à frente dele, possibilitando assim que o zagueiro lhe atrasasse a bola. Mas quis o destino que naquele décimo de segundo, (apavorado com a possibilidade de tocar na pelota com pouca força e que algum adversário a interceptasse, ou tocasse forte demais, impossibilitando a defesa de Gérson e fazendo gol contra), Berg decidisse tentar jogar a bola para escanteio, impulsionando-a por cima da trave, com um toque de cabeça. E assim ele tentou.
                Eu estava quase ao lado de Berg, e me lembro vivamente da expressão facial do nosso goleiro Gérson, ao sentir que a bola atrasada pelo zagueiro estava fora do seu alcance, e pior, com destino certo para dentro do gol. Aquele olhar de terror, de desespero, de tragédia anunciada. E os instantes que se passaram até a bola passar por sobre Gérson, tocar no chão e finalmente morrer mansamente nas nossas próprias redes foram como que um filme. Cada milésimo de segundo está registrado definitivamente em mim. Foi tão inusitado que a torcida do Atlético, que se encontrava atrás desta trave, ainda demorou alguns instantes para perceber o que havia ocorrido: o gol rubro-negro, que viria a ser o do título. E aí explodiu de alegria.
                Este gol deu o título de 1990 ao Atlético. Impediu o bi-campeonato do Coritiba. Mas acima de tudo - e fico muito triste por isso - ajudou a encerrar prematuramente a carreira do excelente jogador e grande homem, chamado Berg (depois do ocorrido ele ainda tentou continuar jogando em outros clubes, mas a marca era muito forte). Tivesse aquela bola tomado o caminho da linha de fundo, por sobre a trave, o Coritiba teria sido bi-campeão, com o gol do título sendo de Berg. E este entraria, futuramente, para a história do Coritiba, como um de seus grandes zagueiros de todos os tempos. Não tenho dúvida disso. Potencial, talento e disposição para tal, Berg tinha de sobra. Mas o destino não quis assim. São coisas da vida.

2 comentários:

  1. Excelente história.
    Estava na arquibancada nesse jogo e não esqueço o Berg sentado com as duas mãos na cabeça, lamentando o que tinha feito.
    Abraços
    Mazur

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  2. Estava na reta da Mauá; tinha 13 anos. Esse jogo marcou minha vida.

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