quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

"HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DO CABEÇA"


O REI ARTUR                    


                Existem pessoas que estão no mundo para marcar, para ser espelho. Pessoas do bem, que tornam, com seus gestos e atitudes, a vida de muitos um tanto melhor. Hoje, quero lhes contar uma passagem singela, mas para mim muito marcante, de um certo cidadão de nome Artur.
                Há algum tempo atrás me apareceu a necessidade de contatar com Edu Coimbra, que foi meu técnico em 1989, no inesquecível time do Coritiba, campeão Paranaense daquele ano. Eduzinho vivia nesta época no Japão, onde trabalhava no futebol como auxiliar-técnico de seu irmão Zico. Porém eu não tinha seu endereço eletrônico ou algum número de telefone, e nem imaginava a quem pudesse recorrer. Foi quando recebi um e-mail daqueles endereçados para várias pessoas. E dentre estes endereços de e-mail se encontrava o de Zico. Vislumbrei a oportunidade de encontrar Edu, mandando uma mensagem para seu irmão.
                Confesso que não acreditava que Zico fosse sequer abrir o meu e-mail.  No texto eu explicava ao “galinho” os motivos de precisar falar com o seu irmão, de minha grande amizade, admiração pelo trabalho e pelo grande homem que é Edu Coimbra. Também lhe confessava minha idolatria por ele: Zico para mim é o brasileiro que, após a geração Pelé, melhor tratou a bola com os pés. Que havíamos jogado contra duas vezes, em confrontos entre Grêmio x Flamengo, nas quartas de final do Brasileirão de 1988. E enviei, sem muitas expectativas, o texto para aquele endereço que havia encontrado.
                Menos de quinze minutos depois, recebo aquele aviso de novidade em sua caixa postal. Antes de abrir a mensagem o coração começou a bater mais forte: o remetente era simplesmente Zico. Fiquei imaginando quantas pessoas já tiveram a oportunidade de receber um e-mail de seu maior ídolo. Quantas vezes, quando garoto, corri pelos campinhos do bairro, ou descalço nas ruas, me chamando Zico, sonhando ser um dia igual a ele. Quantos momentos mágicos - dribles desconcertantes, passes mágicos, gols de placa – o “Galinho de Quintino” havia proporcionado a mim e a todos os seus “súditos” espalhados pelo Brasil e pelo mundo. Ainda incrédulo cliquei abrindo a mensagem, esperando encontrar somente o endereço do Edu Coimbra. Mas me enganei.
                Era um texto extenso, de uns três parágrafos. Nele Zico dizia lembrar-se de mim como jogador; das partidas que nos enfrentamos em Porto Alegre e no Maracanã; das referências elogiosas que o seu irmão Edu sempre fez ao meu trabalho, no Coxa e no Fluminense (onde também joguei sob o comando de Eduzinho); agradeceu os elogios e a idolatria, dizendo ser este o maior e mais gratificante prêmio por sua carreira: ter pessoas espalhadas pelo mundo que admiravam seu trabalho e torciam por ele, especialmente um ex-atleta de futebol, que sabe como isto é importante para qualquer um; enfim, o ídolo se fez gente, e mostrou para um fã apaixonado o seu lado humano, fraterno. E com este simples gesto, fez com que eu, que já idolatrava a “entidade” Zico, como atleta, passasse também a cultuar o ser humano Artur.
                Ao escrever para Eduzinho, contei-lhe esta passagem, e acrescentei:
                “... fazendo minha uma frase de Caetano Veloso, ao explicar a música “Debaixo dos Caracóis dos Seus Cabelos”, feita por ele em homenagem a Roberto Carlos:  “... É muito bom sabermos a quem chamamos de Rei...”
                E assim me senti, e sinto, a respeito desta passagem com Zico: de ter falado com um Rei, e ter visto que a majestade não lhe tirou a humildade. Que o fato de o seu talento lhe ter “imortalizado” como um dos grandes do futebol brasileiro não lhe tornou uma pessoa pior, pelo contrário. Após aquele primeiro e-mail, continuamos a nos falar esporadicamente. Nos dias de hoje vemos tantos “aspirantes” a craque se posicionando de forma tão decepcionante, se colocando acima do bem e do mal, sem ter um mínimo de respeito às pessoas que os cercam. Talvez precisem de umas aulas com o Rei Artur, que ultrapassou em muito a categoria craque, superou a classificação gênio, e chegou à galeria dos imortais, sem deixar de ser gente.

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