quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DO "CABEÇA": "... Aquele gol contra o Grêmio..."


AQUELE GOL CONTRA O GRÊMIO


    O ano de 1992 foi especial, para mim e para o Paraná Clube. Iniciamos janeiro ainda de ressaca da conquista do primeiro título da história do clube: Campeão Paranaense de 1991. E ainda viria mais, com o “caneco” de Campeão Brasileiro da Série B, trazido depois de uma emocionante final contra o Vitória, em Salvador. No segundo semestre de 92 jogaríamos o Paranaense e a Copa do Brasil. E foi nesta competição nacional que aconteceu o fato central desta história: “... aquele gol contra o Grêmio...”.
                De tudo que fiz em minha carreira, nada marcou mais do que este gol. Setembro de 1992. Viajamos a Porto Alegre para enfrentar o tricolor gaúcho, que no estádio Olímpico ainda não havia perdido nenhuma partida pela Copa do Brasil, desde o início da competição, em 1989. Era o jogo de ida, pelas oitavas de final da competição. Jogo difícil, principalmente porque no ano anterior havíamos vencido o Grêmio algumas vezes, criando uma rivalidade entre as equipes. Além de enfrentarmos uma torcida muito “quente”, que foi em grande número ao estádio Olímpico.
                E bastaram 14 minutos do primeiro tempo para sentirmos o tamanho da “encrenca” que nos esperava. Neste momento perdemos, por expulsão, o zagueiro Servilho e o lateral direito Balu. Confesso que nesta hora bateu um desespero: como segurar o Grêmio, em pleno Olímpico, com dois jogadores a menos, por mais de 80 minutos? Já imaginava que se perdêssemos de pouco ainda daria para reverter no jogo de volta. Mas passado o susto inicial, veio do fundo do peito aquele desejo de superação, e uma inexplicável força de um grupo já habituado a desafios e muito coeso, principalmente dentro de campo. E fomos à luta.
                E foi-se o primeiro tempo. Segurávamos o empate com extrema dificuldade, mas conseguimos marcar bem o adversário, quase não lhes permitindo concluir a gol. Na segunda etapa o Grêmio veio definitivamente para cima, colocando muitos jogadores de ataque e tentando nos sufocar no campo defensivo. Poucas vezes conseguíamos chegar ao ataque e o cansaço foi aumentando com o passar dos minutos. Até que aconteceu o lance que definiria a partida.
                Eram decorridos 30 minutos da segunda etapa. Falta lateral, a favor do Grêmio, pelo lado esquerdo de nossa defesa. A bola foi cruzada em direção ao gol, o que possibilitou a defesa do goleiro Celso Cajuru. Com a defesa de Celso, tratei de sair, o mais rápido possível, da grande área. Ao me ver livre, um pouco a frente, o nosso goleiro lançou a bola para mim, para que eu iniciasse uma jogada de ataque. Nesse instante, mentalmente “xinguei” o Cajuru. Eu estava extenuado, naquele instante, de tanto correr atrás dos gremistas. Mas, já que estava com a bola, tinha que dar um rumo para ela. E segui à frente. Meu único desejo era encontrar alguém a quem pudesse passar a bola, mas não enxergava ninguém. Veio o meia Juninho, o qual eu driblei com certa facilidade, mais porque ele mesmo desistiu de pressionar, acreditando que algum companheiro o faria, mais adiante.
                Quando cheguei com a bola na metade do campo já notei que Émerson (o goleiro adversário) estava um pouco adiantado. Mesmo com a vontade de chutar dali mesmo, percebi que não teria força suficiente para fazer a bola chegar ao gol. Neste instante percebi que meus companheiros Saulo e Adoílson corriam, marcados, pelos lados do campo. Tive que continuar e encarar o Jandir, volante do Grêmio, que vinha ao meu encontro. Instintivamente ameacei correr pelo seu lado esquerdo, mas somente rolei a bola por aí, e fintando-o com o corpo, saí pelo seu lado direito. Este é o drible conhecido como “meia lua”. Alguns o chamam “boca” ou ainda “drible da vaca”. Consegui driblar o Jandir, apanhando a bola mais adiante. Como Saulo e Adoílson continuavam a correr, abertos pelas pontas, o meio ficou livre para que eu pudesse me aproximar da área adversária.
                Neste momento percebi que o goleiro adversário deu alguns passos à frente, chegando quase a marca do pênalti. Os defensores gremistas que acompanhavam o Saulo e o Adoílson tentaram correr em minha direção, mas já era tarde. A uns 10 metros da risca da grande área gremista, dei um leve toque, embaixo da bola, encobrindo Émerson. Confesso que quando a “pelota” saiu dos meus pés já tive a certeza do gol. E ao vê-la entrando, de mansinho, na meta adversária, imaginei correr o campo todo, em comemoração. Mas avancei somente uns 10 metros e me atirei ao chão. Um a um os companheiros foram chegando, se atirando, uns sobre os outros, formando uma pirâmide humana e tricolor.  E conseguimos segurar o 1x0 até o final.
                Momentos como este valem uma vida, uma eternidade. Nem nos meus maiores sonhos de menino pude imaginar algo assim. A sensação daquele instante está gravada em minha memória, em minha pele. E este gol marcou para sempre a minha vida. Quase todos os torcedores que, desse dia em diante me abordaram, sejam eles paranistas, coxas ou atleticanos, têm sempre a mesma colocação:
                - E aquele gol contra o Grêmio?
                Sempre que penso em minha trajetória como atleta, é esta a imagem que me vem à cabeça. Imagem de superação, de que todo o esforço vale a pena. Eu e meus companheiros, guerreiros daquele inesquecível exército tricolor, vencemos aquela batalha. Fincamos, para sempre, em pleno território inimigo, a bandeira azul, vermelha e branca.

7 comentários:

  1. Chorei.
    Pelo passado que se recusa a deixar que o presente prevaleça.

    Jeson.

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  2. Eu e meu pai abraçados comemorando aquele gol é uma imagem que nunca sairá de minha memória.... alegrias e sentimentos que só o futebol proporciona.....

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  3. Resumo dessa Obra-prima : RAÇA, TÉCNICA E GENIALIDADE...o que anda faltando, e muito, na Vila.

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  4. Faz tempo que não vemos um gol assim. Raça e habilidade.

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  5. Lembro disso como fosse hj

    ate t entrevistei sobre este gol qdo tava em Prudentopolis

    bons momento

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  6. Que saudade desse tricolor hein!

    A descrição foi brilhante,
    mas um vídeo do lance também faria o maior sucesso no youtube!
    Será que alguém tem esse arquivo?

    Abração,
    Luís.

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  7. Golaço. Não tem mais o que dizer.
    Uma pena não termos jogadores com essa qualidade nem com essa cabeça no PARANÁ CLUBE nos dias de hoje.
    Valeu Serginho

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