quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Papo Cabeça

Alex: esse é 10!  -  Parte II 
O "piá" paranaense que com seu talento e genialidade conquistou os estádios do mundo

Na primeira parte da entrevista com Alex, postada ontem, o craque falou sobre sua trajetória no futebol, do início nos "campinhos" de Colombo, passando pelo aprendizado no Futsal, até a consagração no Coritiba. Seguimos daí em diante.


SP: Era chegada a hora de romper o cordão umbilical, de deixar o Coxa. Foi um processo tranquilo ou te preocupou muito? Como estava o jovem coração do atleta, para esta mudança? 
Alex: Estava sendo convocado sempre para Seleção Brasileira sub-20 e tinha feito um bom sul-americano. Vários clubes já estavam de olho em mim. No brasileiro de 1996 tive um problema muito sério na coluna e fiquei quase três meses parado. Algumas pessoas do clube, da época, queriam me operar e eu não aceitei. Resolvi tratar com fisioterapia e me recuperei. Mas aquelas pessoas achavam que eu nunca mais seria o mesmo. Então na primeira oportunidade que surgisse me venderiam. Quiseram me vender para Portugal e Japão antes, mas não aceitei, porque queria primeiro ser reconhecido no Brasil. Quando surgiu o Palmeiras, o Coritiba se mostrou interessado no negócio. Resolvi que era o momento de seguir um novo caminho.
No Palmeiras, a consagração
SP: Quais os seus projetos e expectativas naquele momento?
Alex: De vencer, de ser campeão. Mas principalmente, me firmar e buscar a Seleção Brasileira.
SP: Como foi a chegada no Palmeiras? Qual a sensação de estar num dos maiores clubes do país?
Alex: Confesso que fiquei assustado. Já na chegada na cidade de São Paulo. O avião ficou sobrevoando Congonhas e eu via o tamanho daquela cidade, o trânsito, e ficava pensando, “como vou me virar sozinho nesse lugar?”. Quando entro no vestiário dou de cara com Djalminha, que era uma das minhas referências naquele momento. Aí encontrei com Rivaldo, Muller e outros tantos. Lembro que o Galeano me disse: “sua missão será só convencer a torcida mais chata do mundo que você pode substituir o Djalma”.
SP: Como foi a relação com o Felipão, no início e durante a sua trajetória no Palmeiras?
Alex: Muito boa. Mas muito difícil ao mesmo tempo. Ele queria que eu fizesse coisas que eu não queria, não gostava, e que achava não serem necessárias. Por isso, ele me substituía várias vezes. Discutíamos muito. Ele dizia que era para meu crescimento, e eu, teimoso, dizia que era desnecessário. Assim foram três anos de vitórias e eu sendo importante no time dele, mesmo não fazendo muitas vezes o que ele queria. Mas ele passou a me aceitar diferente do que ele queria por que passei a ser decisivo para o time.
Conquistou a exigente torcida do Verdão
SP: E a torcida palmeirense? Muito diferente da do Coritiba?
Alex: Igual a do Coxa. Só que maior e com uma cobrança diária absurda. O Rivaldo uma vez me disse que quem joga no Palmeiras joga em qualquer clube do mundo.
SP: Acredito que esta passagem tenha sido fundamental na tua vida profissional. O que mudou no jogador Alex?
Alex: Foi o meu crescimento definitivo, como atleta e como pessoa. Cheguei com 19 anos, para morar sozinho, numa cidade diferente, num clube com uma projeção muito maior, com jogadores com uma qualidade melhor e tendo que provar que tinha condições de estar ali. Fui absorvendo tudo isso e trabalhando para crescer sempre.
SP: O que foi mais marcante no período Palmeiras?
Alex: Os títulos marcaram muito.  Fomos campeões da Copa do Brasil, da Copa Mercosul e da Copa Libertadores. Esses títulos são únicos na galeria do Palmeiras.


“Um gol para enfeitar o futebol”               José Silvério, narrador da Rádio Bandeirantes/SP - sobre o gol antológico contra o São Paulo, com direito a chapéus em três adversários, inclusive no goleiro Rogério Ceni
SPA saída do Palmeiras? Aconteceu naturalmente ou deixou alguma marca?
Alex: De forma natural. Em 2000 acabava meu contrato e já era titular da Seleção Brasileira. Queria ir para o PSG, da França, na época, mas o Palmeiras não chegou a um acordo com os franceses. Aí apareceu o Parma, da Itália, e acabei negociado. Naquela altura o Parma só ficava atrás de Milan, Inter e Juventus, na Itália. Achei que seria um bom negócio, mas foi uma bela roubada, porque logo em seguida a Parmalat (principal patrocinador do clube) quebrou, e o clube começou a ter dificuldades.
SP: E o Cruzeiro? Muito diferente de Coritiba e Palmeiras?
Alex: Muito diferente! A torcida do Cruzeiro gosta de futebol. Eles querem que se jogue bola, com qualidade técnica, para frente. E com uma estrutura que não te deixa faltar nada.

SP: Você diz que a torcida cruzeirense é diferente. Mas em que sentido?
Alex: Ela gosta de futebol para frente, bem jogado. Jogador sem técnica não agrada muito aos cruzeirenses. Pode até ter alguma exceção ao longo da historia, mas em geral sempre são equipes com muita qualidade técnica.

No Cruzeiro, o "maestro" de um time multicampeão
 SP: Você acha que foi o seu grande momento técnico individual?
Alex: Sem duvida! Deixando a modéstia um pouco de lado, eu joguei demais no Cruzeiro. E tudo o que fazia dava certo. E também tive a felicidade de jogar com o (volante chileno) Maldonado, atrás; e com o (atacante colombiano) Aristizábal, na frente. Isso facilitava muito. Além disso, o momento de todo o time era mágico. Tudo funcionava. O que ficou dessa passagem foi a alegria de ter participado de um ano histórico no futebol brasileiro, que foi 2003. A tríplice Coroa foi um fato marcante (a conquista do Campeonato Mineiro, Brasileiro e da copa do Brasil, no mesmo ano).
SP: No que o Cruzeiro modificou o homem e o jogador Alex?
Alex: Minha amizade, admiração e carinho pelo Luxemburgo (Wanderlei Luxemburgo, técnico) aumentaram e se concretizaram. E também a questão da segunda oportunidade. Tinha estado no Cruzeiro em 2001 e não tinha agradado. O Luxemburgo e o Cruzeiro me proporcionaram essa segunda chance. E eu consegui retribuir bem.
Um dos "golaços" com a camisa do Cruzeiro
SP: A passagem pelo Flamengo não foi muito boa, inclusive você mesmo já declarou que o Flamengo não te deixou saudades. Mas ficou alguma coisa de bom?
Alex: Sim. Ficou muita coisa. Aprendi muito naquele momento ruim, principalmente a me cuidar como atleta. O Flamengo vivia um momento ruim naquela época, mas não posso me isentar de culpa. Entrei no “oba-oba” deles e me dei mal. Se tivesse me comportado como estava acostumado e não entrasse naquela onda,  poderia ter sido diferente.
SP: Quais os maiores problemas encontrados?
Alex: A estrutura era péssima. E o grupo de profissionais não tinha compromisso nenhum com a situação do clube.
SP: Pode dar um exemplo mais concreto?
Alex: Coletivo apronto para o Fla-Flu. Eu estava no time reserva. A Gávea cheia de torcedores. E eu, na expectativa de convencer o Zagallo a me colocar no domingo, arrebentava com o treinamento. Estava treinando bem demais, quando entra no campo a Sandra de Sá, cantando o hino do clube. O treino parou por um tempão, e esperaram ela cantar... Nesse dia resolvi que aquilo não era pra mim.
Capitão do Brasil recebendo o troféu de campeão do pré-olímpico
SP: Quando foi a primeira convocação para a Seleção Brasileira? Como foi receber a notícia desta primeira convocação?
Alex: Minha primeira convocação foi em 1992, para a Seleção sub-17. Quando cheguei ao Couto Pereira o supervisor me chamou e me deu a notícia. Realmente foi muita alegria. A notícia da primeira convocação para a seleção principal recebi pela imprensa, no CT do Palmeiras.
SP: Tem boas lembranças da Seleção Pré-Olímpica, que foi campeã em Londrina?
Alex: Ótimas lembranças. Fizemos um grupo muito legal e nos falamos até hoje.
SP: Você estava numa grande fase no Palmeiras, e arrebentou em um jogo contra a Argentina, no Morumbi, pelas eliminatórias da Copa do Mundo de 2002, antes das Olimpíadas. Está lembrado desta partida?
Alex: Esse jogo foi dias depois de uma partida contra o Paraguai, em Assunção. Lá o Luxa usou Djalminha e Rivaldo. Mas no Morumbi, contra a Argentina, optou por mim e Ronaldinho Gaúcho. Arrebentamos com o jogo. Lembro-me que na primeira bola dei uma “caneta” no (volante da seleção argentina) Simeone e o Gaúcho me disse: “é hoje, Bruxo...”.
SP: E a Olimpíada? Como foi a experiência? O que faltou para se conseguir o (ainda hoje) inédito ouro no futebol, quando parecíamos tão favoritos, principalmente pela sua fase e do Ronaldinho Gaúcho?
Alex: A Olimpíada foi linda! O resultado foi horrível. Mas a chance de conviver com outros atletas, e ver os melhores do mundo em todas as modalidades esportivas me marcou muito. Os quatro dias que ficamos na Vila Olímpica serão lembranças eternas. O futebol necessita de preparação e tempo. Tempo nós tivemos. Nos classificamos em janeiro e a Olimpíada foi em setembro. Mas a CBF não usou esse tempo para nos dar a condição de nos prepararmos bem. E na hora dos Jogos, nos faltava muita coisa. Além disso, o momento pessoal do Luxemburgo era péssimo.
SP: Depois da Olimpíada as convocações rarearam para você. Imagina o porquê?
Alex: Depois da Olimpíada a coisa ficou ruim. Fui para lá como jogador do Flamengo. Assim que acabou me apresentei ao clube, mas a coisa não aconteceu. Devo ter ficado uns quatro meses sem ser convocado.
SP: Agora um assunto polêmico: a Copa do Mundo. Ficou um sentimento ruim de não ter ido a nenhuma? Em sua opinião o que mais contribuiu para isso acontecer?
Alex: Ficou um sentimento que poderia ter ido. Não fui por opção dos treinadores, mas acredito que tinha qualidade suficiente para ter ido.
SP: E o Felipão? Alguma mágoa ou tristeza por não ter te levado à Copa de 2002? Já teve a oportunidade de falar com ele depois sobre este tema?
Alex:  Nunca mais vi o Felipão. Como treinador, não tenho mágoa nenhuma. Fez as opções dele. Mas como pessoa falhou comigo no momento mais importante para mim. Mas não volta mais.  Não fico remoendo isso.
SP: Faça um balanço da tua vida como jogador da Seleção Brasileira.

Com Ronaldinho Gaúcho e Roberto Carlos
 Alex: O balanço só pode ser positivo. Joguei várias competições oficiais, fiz alguns gols em seleções importantes. Joguei com os melhores jogadores da minha geração. Fui campeão. Fui capitão. O balanço é muito bom.

SP: O que representou a Seleção Brasileira para você?
Alex: O prazer de ter um sonho realizado, e principalmente poder ter atuado com os melhores da minha geração. Dividir vestiário com Ronaldo, Romário, Aldair, Roberto Carlos, Cafú, Mauro Silva, César Sampaio, Djalminha, Ronaldinho Gaúcho, Juninho Pernambucano, Rivaldo, Marcos, Dida, Muller e outros tantos, não tem preço...
SP: Qual o momento mais marcante nas Seleções?
Alex: Ser campeão e levantar a taça como capitão da Copa América, em 2004.

O capitão Alex recebendo a taça de Campeão da Copa América em 2004

Fim da segunda parte. Amanhã, para finalizar, Alex fala das esperiências no futebol europeu. Do seu atual clube, o Fernerbache. De curiosidades, similaridades e diferenças entre o nosso futebol e o europeu, em especial o turco. Responde um pouco sobre particularidades, intimidades... ah!  e onde ele vai jogar, depois que encerrar o seu contrato com o Fenerbache, em 2013...  enfim: imperdível!

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