quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

"HISTÓRIAS E ESTÓRIAS DO CABEÇA" MINHA PASSAGEM PELO RUBRO-NEGRO: VARICELA E LÁGRIMAS DE EMOÇÃO


MINHA PASSAGEM PELO RUBRO-NEGRO: VARICELA E LÁGRIMAS DE EMOÇÃO

       O dia 23/10/1994 tornou-se inesquecível para mim. Dia de uma das maiores emoções que senti como atleta profissional de futebol. Data do jogo Atlético (PR) 2x2 Juventude (RS), pelo Campeonato Brasileiro da Série B. Este jogo poderia ter levado o Furacão de volta à Série A já naquele ano (o que ocorreu no ano seguinte), caso vencesse os gaúchos.
                Neste ano de 1994, após uma negociação frustrada com o Pachuca do México, retornei ao Brasil em agosto e fui contratado pelo Atlético Paranaense. O técnico da época era o excelente Hélio dos Anjos. Cheguei durante a disputa da Série B, mas fisicamente muito abaixo dos outros atletas do elenco, pois havia permanecido mais de um mês no México, praticamente sem treinar, durante as tratativas com a equipe mexicana. Os preparadores físicos da época, Prof. Tavares e Prof. Riva, me deixaram pronto para as disputas em duas semanas. Logo de cara, com boas atuações, ganhei a confiança do treinador e o carinho da torcida rubro-negra.
                Durante a segunda fase da competição meus filhos Guilherme e Mariana contraíram varicela. Comuniquei o Departamento Médico do fato, e solicitei que pudesse permanecer concentrado durante este período, no hotel do centro de Curitiba onde concentrávamos sempre, pois temia adoecer também. Após alguns dias da solicitação fui autorizado pela direção e me mudei para o hotel. Fiquei uma semana concentrado e jogamos contra o América/SP. Vencemos e garantimos a classificação para a fase decisiva, faltando ainda uma rodada.  Entretanto acabei contraindo varicela, mesmo com os cuidados tomados.
                Perdi a última partida da fase e a primeira do quadrangular decisivo, contra o Goiatuba, lá no estado de Goiás. Foram 10 dias de cama, com febre e milhões de bolinhas vermelhas por todo o corpo, que coçavam insuportavelmente. No domingo em que meus amigos venciam o Goiatuba, mesmo na casa do adversário, fui ao Parque Bacacheri tentar correr um pouco. Sentia-me totalmente debilitado. O corpo doía muito, mesmo com uma corrida leve, quase um trote. Na quarta-feira próxima enfrentaríamos a Ponte Preta, em Curitiba.
                Apresentei-me na segunda-feira ao Hélio dos Anjos, que me perguntou sobre a possibilidade de jogar na quarta. Disse que seria praticamente impossível por estar com o corpo todo dolorido. Treinei neste dia com os preparadores físicos e na terça fui tentar treinar com bola. Treino tático-coletivo, bem curto - uns 30 minutos – serviu para que o nosso técnico definisse que eu jogaria no máximo o primeiro tempo do jogo, mesmo estando muito abaixo de minhas condições normais. Aceitei ajudar, pois a partida era de imensa importância.
                Como nem tudo que se planeja dá 100% certo, nos primeiros 15 minutos da partida contra a Ponte dois companheiros tiveram que ser substituídos por lesão, e como naquela época só se permitiam duas substituições, eu teria que jogar a partida inteira. Não imaginava como suportaria. No segundo tempo, por umas duas vezes me sentei no gramado, sem forças. Mas fui até o final. Vencemos por 3x1, e de quebra, ganhei todos os prêmios de melhor em campo. Deus ajuda mesmo os doentes e as crianças.
                Apresentamo-nos no dia seguinte à Comissão Técnica, para iniciarmos a preparação para a partida do domingo seguinte, contra o Juventude, de novo na Baixada. Jogo que poderia decidir nossa volta a Série A, pois em caso de vitória abriríamos três pontos do próprio Juventude (naquela época a vitória ainda valia dois pontos) e mesmo que derrotados na rodada seguinte, contra o mesmo Juventude, em Caxias do Sul, ainda dependeríamos somente de vencermos os dois jogos finais. Eu me sentia como se tivesse sido atropelado. O corpo todo doía. Descansei nesta quinta-feira; participei apenas uns quinze minutos do treino apronto, na sexta; no sábado, uma corrida leve pela manhã e só. Pronto para o combate do domingo.
                O que eu nem sonhava, e que me marcaria para o resto da vida, era o que ocorreria nos instantes anteriores à partida. Diferente do normal daquela época, o Prof. Tavares decidiu que aqueceríamos dentro do gramado. Então, 45 minutos antes do início da partida, adentramos ao gramado de uma Baixada super lotada. Já nesta hora, não se via um espaço vazio na arquibancada. E foram 30 minutos de aquecimento sob cantos e gritos ensurdecedores. O nome de cada atleta gritado em uníssono, pelos milhares de enlouquecidos rubro-negros. Confesso que aqueci com as lágrimas escorrendo pelo rosto, completamente emocionado. Daquele momento em diante nem me lembrava mais que até uma semana antes estava de cama, com varicela; que estava com o corpo todo dolorido pelo esforço da quarta-feira anterior; o que eu mais queria era entrar em campo e dar o máximo, para retribuir aquilo tudo com uma grande atuação e com uma vitória marcante. Joguei a partida toda, mesmo estando exausto na segunda etapa. Até os 44 minutos do segundo tempo vencíamos por 2x1, mas os gaúchos empataram no último minuto. Tristeza geral, mas em meu coração ficou gravado cada minuto daquele aquecimento inesquecível.

Um comentário:

  1. Realmente muito emocionante.

    Eu tinha 13 anos e não lembro com tantos detalhes, mas salvo engano, tanto aqui na Baixada como principalmente em Caxias do Sul nós fomos garfados por uma arbitragem que beneficiou em tudo a Parmalat/Juventude.

    Mas há males que vem para o bem. Talvez se tivéssemos já subido, não ocorreria a revolução de 95 no clube.

    Saudações rubro-negras!

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