terça-feira, 11 de janeiro de 2011

TERÇA FEIRA. "DIA DE POESIA": CECÍLIA MEIRELLES E CHARLES BAUDELAIRE

      Hoje trago aos amigos que curtem a poesia dois "monstros sagrados": a nossa, carioca, brasileira Cecília Meirelles. Poeta, pintora, jornalista e professora, é considerada umas das vozes líricas mais importantes da literatura brasileira. E o francês Charles Buadelaire, um dos precursores do Simbolismo e reconhecido internacionalmente como o fundador da tradição moderna em poesia.





MOTIVO
Cecília Meirelles



Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço,
— não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
— mais nada.



A BELEZA
Charles Baudelaire


De um sonho escultural tenho a beleza rara,
E o meu seio, — jardim onde cultivo a dor,
Faz despertar no Poeta um vivo e intenso amor,
Com a eterna mudez do marmor' de Carrara

Sou esfinge subtil no Azul a dominar,
Da brancura do cisne e com a neve fria;
Detesto o movimento, e estremeço a harmonia;
Nunca soube o que é rir, nem sei o que é chorar.

O Poeta, se me vê nas atitudes fátuas
Que pareço copiar das mais nobres estátuas,
Consome noite e dia em estudos ingentes..

Tenho, p'ra fascinar o meu dócil amante,
Espelhos de cristal, que tornaram deslumbrante
A própria imperfeição: — os meus olhos ardentes!


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