sexta-feira, 26 de novembro de 2010

PARA SE PENSAR


A ÉTICA NO FUTEBOL              

                 Nas últimas semanas, perplexo e bestificado, acompanhei as reflexões e debates a respeito das possíveis “entregadas” de jogos, que alguns clubes supostamente fizeram ou farão, neste campeonato brasileiro e nos anteriores. Atletas, treinadores, dirigentes, jornalistas e torcedores, emitindo opiniões a respeito da ética no esporte, do fair play, dos limites da paixão. E, para minha surpresa, na maioria dos casos, defendeu-se a legalidade de um clube não se empenhar para vencer um adversário, se isto pudesse favorecer um rival. Esta nefasta conclusão me remete à sentença que finaliza o livro “A Revolução dos Bichos”, obra prima do renomado romancista britânico George Orwell: ... mas já se tornara impossível distinguir quem era homem, quem era porco.”
                Vamos analisar por partes. Iniciemos pelo torcedor, para alguns, a razão do espetáculo futebol. Com a desculpa de que o futebol envolve “paixão”, hoje o papel do torcedor mudou –e para pior, em minha opinião – pois permite a quem deveria ser somente platéia, uma considerável participação em decisões e tomadas de posição, que são de exclusiva responsabilidade de quem gerencia os clubes (os seus dirigentes) e de quem efetivamente apresenta o espetáculo nos gramados (atletas e comissões técnicas). Compreendo algumas manifestações de torcedores, que justificam através do fanatismo, suas colocações de que preferem que sua equipe não se empenhe em campo e percam, se esta vitória possa favorecer um rival. Embasado nesta posição, alguns dirigentes, técnicos e até jogadores, vieram nesta última semana a público, não apenas compreendendo estas manifestações, mas surpreendentemente, referendando-as. Por vezes com ironia, mas na maioria dos casos seriamente, os reais responsáveis pelos espetáculos defenderam a correção em “entregar” jogos, para “satisfazer” seus torcedores e prejudicar os rivais. Ora... e a ética? a dignidade? Alguns ainda justificam dizendo que temem possíveis agressões de torcedores. Não se soube de nenhuma ocorrência deste tipo, por exemplo, aos atletas e membros da delegação do Internacional de Porto Alegre, que venceu o Botafogo, no último domingo, e deixou o seu rival Grêmio em excelentes condições para conquistar uma vaga à Libertadores da América.
                E mais contrariado e decepcionado fiquei com o posicionamento da imprensa esportiva brasileira. Julgo ser papel do jornalista, apresentar e debater os fatos, mostrando sua opinião, de forma imparcial e “desapaixonada”.  E creio que o que deve nortear seus princípios seja a ética, a justiça, a verdade, enfim, o que é correto. Porém, com frases como: “... vamos deixar a demagogia de lado...” e ainda: “... todo mundo sabe que isto existe, só não vê quem não quer...” a grande maioria dos jornalistas esportivos de nosso país tentou explicar as atitudes antiéticas já citadas anteriormente, e o que é pior, defendendo-as, como se corretas fossem. Ora, se o órgão que fiscaliza, busca a informação e expõe a notícia ao grande público, julga correto ser incorreto, desleal, antiético, o que podemos esperar do torcedor/leitor/ouvinte. Ao avalizar atitudes descabidas como esta, a imprensa potencializa a difusão do imoral, do obscuro, do incorreto. E isto pode tornar-se fatal para o futebol, de modo geral. Não imagino grandes marcas, potenciais patrocinadores, vinculando sua imagem com “maracutaias”, com armações de resultados. Um dia, que espero seja breve, superaremos a crise moral que domina a nossa sociedade, onde ainda impera a Lei de Gérson: “Eu quero é levar vantagem em tudo”. O esporte de alto rendimento é arte, é espetáculo. E os espectadores devem querer sempre o melhor desempenho dos “atores”. E cobrá-los por isso, e não por exercer com excelência a sua função.

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